Quando clicou no
ícone do aplicativo a tela do celular se abriu, mas não da forma convencional.
Abriu feito um buraco interdimensional que engoliu e decepou o seu dedo em
segundos. Logo, o celular voltou ao normal, porém sua vida de clicar havia
acabado.
Sua mão escorregou
para fora da cama. Sentiu as lambidas úmidas e quentes de sua cachorrinha. Toda
arrepiada lembrou-se que havia três meses que sua cadela tinha morrido.
As cebolas, as
cenouras, as batatas, tudo cozinhava no molho grosso. Não entendia o porquê
havia demorado tanto para realizar aquele desejo. A carne perfumosa estava
tenra e suculenta. Fez seu prato e sentiu-se à mesa. Salivava. O torniquete em
sua perna esquerda vazava sangue, enfraquecendo-o, não se importou, pois seu pé
cozido parecia apetitoso demais.
***
Ele acordava todas as
manhãs com sua esposa acariciando sua barba. Um hábito que ela não perdeu mesmo
depois de ter sido levada pela doença.
Mãos nervosas a
acariciavam no meio da madrugada. Seus olhos marejavam limpos de qualquer sono.
Queria muito que fosse um monstro hipotético, preferia até o demônio religioso.
Assim, não odiaria alguém tão próximo.
Não entendia o porquê seu
bebê continuava a chorar mesmo depois de tê-lo colocado para dormir no fundo da
banheira cheia de água.
Depois de um tempo sentada
no sofá, sentiu uma mão fria tocar sua pele. Teria que esconder melhor o corpo
do seu ex.
Conversava com sua amiga
pelo Whatsapp trocando mensagens de voz. Reconheceu que em um dos áudios não
era sua amiga quem falava. Uma voz espectral e ruidosa anunciava: “Ela morre
amanhã.”
Ignorou o aviso da amiga. Mas
quando o carro do seu pai travou num engavetamento e viu pelo espelho
retrovisor uma carreta vindo desgovernada, só fechou os olhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário