sexta-feira, 14 de agosto de 2020

POESIA - ONTEM - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Brad Gray)

Volto mais vezes do que gostaria
Às lembranças que foram nossas.
Desfeito de nós as horas de agora
São solitárias, em casa não há riso
Fácil, o tempo está sempre fechado.
Busco fuga daquilo que sinto, e assim,
Fico repetindo o passado, o antes,
Na esperança de acordar ontem,
Onde o sol morava ao meu lado.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

POESIA - ADEQUAÇÃO - THIAGO LUCARINI

As árvores não conhecem sua forma final.
Não podem prever ou almejar registro de si,
Presas à casca e as suas raízes
Dependem dos ventos para moldá-las,
Dos homens para ditarem cortes.
Nada nos contornos das árvores é natural,
Pois seus corpos sem vontade
São instrumentos da vontade de outros.
Na insegurança da fôrma dada pelos dias
Muitas crescem à beira do abismo
E ninguém sabe que o ciciar é choro.
Anseiam em vão que fruto
Leve a semente a um destino diferente.

terça-feira, 4 de agosto de 2020

POESIA - MÍDIA - THIAGO LUCARINI

As estrelas têm pena de mim,
Sabem que jamais terei o brilho.
Não cabe decisão ao barro
Sobre algo que foi decidido
Por deuses antigos e seus vícios.
Escolho aquilo que já foi escolhido
Falo aquilo que já foi falado
Amo aquilo que já foi amado
Sou aquilo que me foi designado.

domingo, 2 de agosto de 2020

POESIA - CANTOS - THIAGO LUCARINI

Quantos sabem 
Que o canto do pássaro é triste
Lá do alto da árvore do jardim?
Quantos se enganam
Que eles cantam suas alegrias?
Mas mesmo nos cantos existem elegias,
Tristezas acumulados nos cantos dos dias.
Quantos sabem sobre a dor de não voar?
De não ter ninho para onde voltar?
Quantos sofrem em silêncio,
Pois a voz se tornou espinho?

POESIA - A LUA EM TI - THIAGO LUCARINI

Metade da minha lua
Está no escuro de ti.
É a parte de mim que desconheço,
Pois é o eu criado dentro do teu céu,
Das tuas noites silenciosas.
Se eu cresço, se mínguo,
Se completamente desapareço
Ou se sou uma fase
Já relegada ao esquecimento
Só depende da tua luz.

POESIA - AOS QUE VÃO SEM ADEUS - THIAGO LUCARINI

Eles se vão em fila
Mantendo exata distância
Dos vivos isolados
Em sua incapacidade.
Falta o toque
A permissão
De não partir sozinho.
O coração cobra
O que não foi visto.
Um véu cobre o rosto
Mudando o aspecto do céu.
Não há fôlego
Não há adeus,
Mas vão a Deus
Onde podem enfim
Estar seguros.

POESIA - SEIO AZUL - THIAGO LUCARINI

As nuvens que vagueiam pelo céu
Anseiam um dia ser chuva.
Algumas se desfazem antes,
Pois não têm tempo de amadurecer
Suas águas no seio azul do céu.
Aquelas que restam espalhadas
E que alcançam o tempo certo
Cumprem sua missão de cair
Deixando sobre a terra
O desejo realizado.

POESIA - SILÊNCIO, HERMES. - THIAGO LUCARINI

O vento não sabe
Que conta histórias
Que me machucam.
Seus assobios trazem na madrugada
Assombro, é faca nos meus ossos.
O vento uiva
É um lobo incapaz de manter silêncio.
Na tormenta
Curvado feito uma palmeira
Meu coração peneira suas palavras
Mas uma ou outra sempre escapa.
Longe do meu poder de defesa
Já não sei se vale a pena
A luta contra seus dizeres,
Pois aquilo que é dito ao vento
Sempre achará destino no ouvido de alguém.