sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

POESIA - ÚLTIMA CANÇÃO - THIAGO LUCARINI


Desculpe-me se esta canção boba
De alguma forma te incomoda,
Mas desde que você me deixou
Eu não sei escrever sobre outra coisa,
Perdoe minha falta de autopreservação
Quando não estou no controle do meu coração.
Poderíamos ter sido um show,
Porém acabamos como linhas gastas
Numa canção triste e esquecível.
Prometo que esta é a última vez
Que te toco, depois disso, silêncio.

POESIA - PRISIONEIRO AZUL - THIAGO LUCARINI


 Somos prisioneiros
Daquilo que não fizemos
Daquilo que não tentamos
Daquilo que sonhamos por tempo demais.
Pelo o quê nós vivemos
Se não para irmos mais alto,
E quando, chegarmos ao limite
Quebrarmos nossas asas
Só para provarmos que falhamos
Em ser um pedaço do céu azul?

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

POESIA - MAIS UMA TENTATIVA - THIAGO LUCARINI


“mais uma tentativa”
É o que digo toda vez.
Seja pelo toque ou pelo sorriso
Ignoro o teu desprezo e me iludo
Acreditando que em algum momento
Existirá de ti bandeira erguida,
Sinal verde, mas logo percebo
No estranhamento de nós
Aquilo que eu sempre soube
“mais uma tentativa”
Repetitiva e inútil.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

POESIA - UM LUGAR EM ALGUÉM - THIAGO LUCARINI

que do abraço
nasça a esperança
de um sorriso,
germine um amor
não prometido.
torne o distante,
um limite possível,
já não importando
quem seja, desde que seja
um lugar em alguém.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

POESIA - JÁ NÃO SOU MAIS CHUVA - THIAGO LUCARINI

conversei com a chuva
sobre as lágrimas que um dia derramei.
ela me disse que nada poderia me dizer,
pois água que cai
não fala sobre água que cai.
então sob a chuva,
eu redundante, chorei.
e, ali, nos teus braços de final de tarde ouvi:
"agora fazes parte de mim
e tens todo o entendimento
destes corações que se derramam
em excesso com esperança
de serem Sol."

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

POESIA - AGUADO - THIAGO LUCARINI

tem amores que escorrem entre os dedos,
pois não têm substância, consistência,
são falhos pela primeira natureza.
estes amores ralos e aguados
são pobres fantasmas diáfanos
capazes de assustar, mas de jamais
matar a sede, de ser pouso, morada.
estes amores num curto espaço de tempo
servem, porém a longo prazo, matam
por não reterem força de vida.

POESIA - OFERENDA - THIAGO LUCARINI

saio de você como um rio
que recua dos braços do mar,
que prefere secar e se extinguir
a ser parte de um todo estéril.
as flores que um dia joguei
como oferenda ao a(mar)
hoje sepultam meu eu à deriva.
não me afogarei nas suas dores
ou mesmo nas minhas, antes serei
chuva, nova água, outro ciclo de vida,
pois sou rio que recua, mas o sorriso jamais.

sábado, 5 de outubro de 2019

POESIA - COMPASSO - THIAGO LUCARINI


Gostaria de marcar o tempo
Feito um relógio
Duro, estável, mecânico
Onde cada pulsar é apenas
O passar regular do ponteiro.
Mas pela tragédia de ser humano
Marco o tempo pela lembrança,
Aspecto falho deste eu não dissociável
Do ponteiro, ao qual, meu coração obedece.
Enquanto o relógio tem uma prisão
Simples e limpa, de falência estabelecida,
A minha é colorida, mística,
E cheia de ilusão sobre este existir.

POESIA - MULHER DE ÁGUA - THIAGO LUCARINI


A água que escorre
Pelo teu corpo tem de ti
Aquilo que eu jamais terei.
Talvez, eu junte toda esta água
E te dê a forma do meu coração,
Assim eu terei nesta mulher de água,
Translúcida e diáfana, o amor
Impalpável que de ti nunca beberei.

terça-feira, 17 de setembro de 2019

POESIA - MAR DE ARAL - THIAGO LUCARINI

Lágrimas destituídas do sal
São águas quaisquer sob o Sol
Alheias ao que de mim
Faz parte daquele eu fulcral.
Meus olhos secos de sorrisos
São como o mar de Aral,
Roubado de si, transposto, tóxico,
Desértico e salino de feições e afeições.
Sou mar, morto.

POESIA - ÁRVORE - THIAGO LUCARINI


Meus pés são raízes
Meu coração é fruto
Da árvore que sou.
A cabeça é copa,
Suporte pra corda,
Cadafalso, mas também
Flores, recomeço, alguma cor.
Sou árvore de ninhos e ciclos,
E a minha sombra pode ser
Descanso ou rasteira serpente,
Claro, que isso depende
De quem sentar embaixo.

sábado, 14 de setembro de 2019

POESIA - VESÚVIO - THIAGO LUCARINI


Meu mundo, Vesúvio,
Intermitente despejo
Sobre meus olhos frios.
Chove cinzas secas
Cobrindo toda a cor
Que faz de mim, vida.
Chove cinzas e por elas
Serei arrastado e no teu útero
Estéril serei parte esquecida
De tudo aquilo que queimou.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

POESIA - JAMAIS CHUVA - THIAGO LUCARINI

Cai de mim
Águas que jamais
Foi chuva.
Escorrem pelo meu corpo
E estranhamente não floresço,
O que derramo, desmancha
E nunca frutifica.
E se por acaso nasce flor
É estéril.

POESIA - NOTURNO - THIAGO LUCARINI

Sou noturno
Feito de silêncio e escuridão
E estrelas frias.
Brilho numa abóbada qualquer
Não preciso de céu
Para ser noite, sombra, o outro,
Parte inteira deste todo
Eu noturno.

sexta-feira, 16 de agosto de 2019

POESIA - CAVALO DE BARRO - THIAGO LUCARINI


IMAGEM: Olga Tereshenko

A força do cavaleiro reside
No dorso do seu cavalo,
Enquanto, o poder maior
De Deus é ser Ele mesmo
Sem precisar verbalizar razão
A sua imagem feita de espelho cru.
Desnudado Deus da sua capa dourada
É revelado de barro, o homem.
Homem que é cavalo.

terça-feira, 13 de agosto de 2019

POESIA - VIDA DE CÃO - THIAGO LUCARINI


Sem orgulho
E de barriga vazia
Eu te procuro
Como um cão
Atrás de restos de comida.
Sou cão que sabe dos riscos
Da vida descartada e vencida
Mas que prefere a disenteria,
A morrer de solidão.

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

POESIA - ESTRANHOS INTEIROS - THIAGO LUCARINI


Enxuguei o resto das minhas lágrimas
Com os farrapos do nosso fim.
Não cabe mais a mim, o choro.
Você despejou sobre meus ombros
Medo e solidão, incapacidade,
Mas é tempo de reconstruir alicerces,
Reestruturar outros sentidos, ir em frente.
O que você fez um dia será perdoado,
Agora tempos escolhas não ditas e não
Podemos negar nem mostrar misericórdia,
Seguiremos sóbrios desta decisão
Por caminhos desconhecidos
Daquilo que originou o “nós”.
Vamos ao amanhã cheios em crer
Que logo abandonaremos a chuva,
Que deixaremos de ser meros feridos
Para sermos estranhos inteiros.

terça-feira, 6 de agosto de 2019

POESIA - REFORMA - THIAGO LUCARINI


O Céu precisa de reparos
Nunca vi tantos santos falhos.
É preciso novas cores
Uma demão de outros amores,
Pois no velho Paraíso já não cabe
Aqueles da vida exilados, que desabe
Desde seus pilares e leve consigo
Seu vasto horror dito bendito.
Após lamento, que venha em fogo
Ressuscitado entendimento
E que este imposto Céu doente
Seja para a mente, esquecimento.

sexta-feira, 26 de julho de 2019

POESIA - POETAS E ABELHAS - THIAGO LUCARINI


Poetas e abelhas
São a mesma coisa!

Poetas e abelhas captam a essência
Das flores-coisas para frutificarem

O mundo. As abelhas operárias estéticas
Sujam as céleres patas de pólen dourado,

Os poetas sujam as calejadas mãos
De macia tinta ou de fluente carvão.

Poetas e abelhas cruzam campos incertos
E desertos atrás de uma singela flor-coisa.

São pequenos polinizadores de sonhos,
Úteis gigantes em sua imperceptível missão.

Poetas e abelhas usam listras como símbolo,
Uma armadura contra toda a secura dos dias.
                                                                                               
Abelhas têm o ferrão por espada
Os poetas têm o lápis de imagético.

Poetas e abelhas estão constantemente zumbindo
Um hino de socorro na esperança de que alguém os escute.

Poetas e abelhas moldam colmeias-casas
Cheias de mel, mas que poucos se atrevem tocar

Pois podem achar doçura
Pois podem achar dor.

Poetas e abelhas estão entrando em extinção, e ainda, sim,
Teimam deliberadamente em não deixar a achada flor-coisa estéril,

Sem qualquer percepção do olhar alheio corriqueiro
Sempre apressado demais para poder ver o infinito no ínfimo.

Poetas e abelhas apesar da aridez e insensatez
Seguem seu voo de proselitismo frutífero-poético.

Poetas e abelhas
São a mesma coisa!

Poetas e abelhas
São a mesma coisa!

quarta-feira, 26 de junho de 2019

CRÔNICA - DISTOPIA MATRIMONIAL - THIAGO LUCARINI



Ela não sabia exatamente quando o seu casamento azedou. O tempo não tem piedade nem os homens. No pueril início, não havia flor que murchasse, sorriso que não se abrisse, desejo que não ardesse, estrela que não brilhasse. Ele mudou. Esqueceu-se das rotinas do amor e caiu nas rotinas lodosas diárias, daquelas que matam possibilidades e afetos. Desapareceram os beijos de bom dia, ligações ao meio-dia, o toque espontâneo, a procura a partir da necessidade da carne, casualidades. Em vã tentativa, ainda dividiam “eu te amos” ditos ao vento mais por convenção que convicção. Ela se viu acorrentada a uma união de um só, e insistiu até dar-se por vencida e render-se a mesmice. Acabou presa à rede da rotina corroída por dentro, envenenando-se ao tentar entender o porquê da mudança, nunca soube.
Não a traia, por sorte, não era gay. Só era um homem de plástico, estéril nas relações.
A vida tornou-se dilatada, feita de compromissos obrigatórios e enfadonhos. Não existia felicidade, apenas comodismo, desgraçada estabilidade. Ele a renegou à castidade de mãe, a negou a puta entre quatros paredes. Beijava-a feito filha e estendia-lhe a mão em público pelas aparências menores, mas em casa, a esquecia, nada de cuidados maiores. Por sua vez, ela já não se importava em tirar o cheiro de cebola ou de outros suados condimentos, pois por mais temperada que estivesse, ele quase não a comia, e quando, pela obrigatoriedade nupcial mensal cedia o pau a boceta, gozava rápido, já que estava sempre cansado e precisava trabalhar cedo no outro dia. Era trabalhador, de fato. Este era um dos maiores erro dele: acreditar que ter a mesa cheia era o suficiente, prover o básico não alicerça cumplicidade, confiança, loucura abissal. Existem outras fomes, tão maiores e violentas, quanto à fome do corpo. Esquecia ele que um coração relegado ao vazio igualmente derrubava um lar.
Em algumas noites em orações frias, mas não de todo mentira, ela suplicava aos bons anjos que mandassem a morte a ele, e desse-lhe liberdade, quem sabe, nova vida. Ambiguamente, já não sabia viver sem ele e nem o suportava, mas como boa senhora e cristã, o respeitava, uma vez feitos os votos perpétuos. Achava indigno até tocar-se sozinha tendo um homem. Via as manhãs e tardes passarem tendo por companhia a solidão, durante a noite, lá também estava à solidão entre eles na cama, lugar de repouso e silêncio e não de amor.
Miúda, ela foi murchando à sua sombra ausente e ainda onipresente. Infalivelmente, ela era dele. Ele não dava sinais de compreensão da situação ou fez-se entender, ela orgulhosa não perguntaria ou confessaria a dor da intocabilidade. Nunca reclamou em sociedade nem a sós. Este fora seu erro. Ao outro, o silêncio pode significar paz e regularidade, aceitação.
Ele a amou pouco, ela ansiou demais. Eram planetas em órbitas opostas em que o alinhamento ocorre por poucas horas apenas uma única vez, e depois, seguem trajetórias separadas sem se lembrarem da gravidade de atração inicial.
 Ela desejava que ambos não pertencessem ao mesmo Céu, queria um Paraíso livre para si, sem ele, só ela. Refeita. Renascida sob outros signos mais alegres.
Covarde, viveu fiel ao seu tédio e amargor até o fim, por azar, se foram juntos, não se sabe se para lugares distintos ou iguais. O destino não permitiria tamanha afabilidade em irem desconexos como foram em vida.
Que Deus possa ceder grata separação aos infelizes. 

quinta-feira, 20 de junho de 2019

POESIA - LACUNA - THIAGO LUCARINI


Amei-te quando eu era escuro
Até que me fiz luz, estrela,
E pude enxergar o distante de ti.
Nunca foi recíproco, só cômoda
Gravitação. Fui queima, combustível.
Quando, enfim, houve claridade
Deixei de em vão te amar, pois tão somente
Encontrei eterno vazio, lacuna, ausência.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

POESIA - VENTRE DE VIDRO - THIAGO LUCARINI


Sou teu espelho
E a imagem que gero de ti
É perfeita,
Pois meu ventre de vidro
Preenche as lacunas do teu ego,
Materializa idealização no reflexo,
Negando a ti ranhuras básicas,
Humanidade.
Sou teu espelho, falho.

segunda-feira, 3 de junho de 2019

POESIA - MARGINAL - THIAGO LUCARINI


Marginal meu olhar
Que ousou roubar-te
Para guardar no meu coração
E acender desejos não ditos
Que vão muito além da imaginação.
Marginal, margeio memórias
Deste meu eu ladrão sem perdão.

terça-feira, 28 de maio de 2019

POESIA - A DURAS PENAS - THIAGO LUCARINI


Está é a minha pena:
Se eu escrevo
É por pena de mim
E pela pena crio
Palavras com o poder de abismos
Palavras com o dom da criação.
Escrevo como quem morre.
Escrevo como quem vive.
Cada palavra é meu gênio abstrato
E uma lâmpada com gênios vários
A me conceder mais que três desejos.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

POESIA - AREIA - THIAGO LUCARINI


Cultivei desertos
Como quem alimenta amores
Por resultado
Após muitos minerais de mim idos
E o ardor sufocante da solidão no peito
Tenho hoje um coração de vidro,
Frágil, estéril e pueril em amar
Sufocando-se nos restos de velhas areias.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

POESIA - MEUS BOTÕES - THIAGO LUCARINI


Tudo aquilo que o botão de flor começa
O botão de roupa encerra
É o querer fluido
Agindo sobre o desejo estático.
A primeira é filha do gerúndio
E a outra semente do futuro encarcerado
A sete palmos.

terça-feira, 7 de maio de 2019

POESIA - PALAVRA SEMEADA NO SILÊNCIO - THIAGO LUCARINI


Ao calar-me
Não encerro a palavra
Apenas faço-a semente potente
Criando profundas raízes.
E quando, enfim, abrir a origem
Da carne em resposta ao silêncio
Já não jorrarei latente semente
Mas vivaz e aterradora floresta
A espalhar-se a partir do lúmen da boca.

sábado, 4 de maio de 2019

POESIA - GUERREIRO EM PAZ - THIAGO LUCARINI


Por ti pousaria minha espada
E viveria uma vida de paz.
Esqueceria os horrores da guerra
Para achar doces sonhos nos teus braços.
Renunciaria minhas defesas
Para ser desarmadamente teu.
Deixaria de lutar velhas batalhas
Para estar rendido ao teu amor
E o único clamor que escutaria
Até o fim dos meus dias seria
O ardor das tuas súplicas manhosas
Ante minhas carícias maliciosas.
Não há tempo para promessas ou regresso
Uma vez que numa trincheira me encerro.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

POESIA - CONDIÇÕES - THIAGO LUCARINI


Quando o amor é crime
Todo viver passa a ser castigo.

Quando o amor é condenado
Todo aquele que ama é prisioneiro.


Quando o amor é vil sentença
Todo aquele que ama é sepultura aberta.

Quando o amor é amor
Todo aquele que ama é seu igual.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

POESIA - FLOR DE ESTRELA - THIAGO LUCARINI


Existem distâncias
Que jamais superaremos,
Pontes nunca construídas
E muitas cicatrizes
Que de forma alguma
Serão felicidade ou estradas.
Há, sim, destinos inalcançáveis.
Do Alto alguns grãos de poeira sabem
Que jamais desabrocharão estrela.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

POESIA - O QUANTO AMEI - THIAGO LUCARINI


O quanto amei
Não fora o suficiente
Para tocar as pedras.
Desperdício das minhas ações
Ao apostar meu céu
Naquilo que era estéril.
As pedras não têm culpa
Da sua frieza e dureza, é natural.
Depois da tragédia deste amar
Obtuso e falido desde o início
Coube a eu ser insubstancial.

sábado, 20 de abril de 2019

POESIA - DISSONAR - THIAGO LUCARINI


Feliz daquele que encontra
A si na jornada da vida.
Talvez seja essa a maior busca,
O derradeiro propósito, a profunda cura,
A essencial sabedoria.
Pois ao dissonarmos do eu
Somos veneno e desgraça,
A nós e a tudo mais.

POESIA - RACHADURAS - THIAGO LUCARINI


Observo as rachaduras na calçada
Nada do que é humano permanece intacto.

Observo as rachaduras nos meus pés
Nada do que é carne dura na quantia dos passos.

Observo as rachaduras no céu
Nada passa do seu ciclo natural.

Observo as rachaduras no sepulcro
Nada do que foi, resta. Promessa.