sábado, 30 de dezembro de 2017

POESIA - RUIR PELA ESPERANÇA - THIAGO LUCARINI

Estou aguardando incertezas
Não há exatidão matemática que me salve.
Estes sonhos são frutos impalpáveis
Longe de qualquer tangência do olhar.
Ficar é solidão, correr é desespero.
Não há qualquer céu limpo promissor,
Flor em promessa de belo desabrochar,
Porém há vastas ameaças de chuva e enterro.
Não me resta muito além da espera
De ir trançando meus cabelos no tempo
Ansiando que o vento traga inconfessas notícias
À uma alma que definha em esperança.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

POESIA - BORBOLETAS NO CORAÇÃO - THIAGO LUCARINI

Descobri dentro do meu coração
Coisas que não imaginei poderem existir.
É estranho ver-se através de olhos novos,
Achar-se no reflexo, na identidade do dia.
Resolvi ser mais gentil comigo mesmo,
Para assim, testar apaixonar-me pela primeira vez
Pelo eu em plena muda desde o primeiro sopro.
Borboletas transitam pelos átrios e ventrículos
Muito além do sangue, são alma, a esperança
De um jardim em promessa de perene festa
Onde cada flor sensivelmente desabrochada
Dará um vistoso fruto de saciável amor.

sábado, 23 de dezembro de 2017

POESIA - BERÇO DAS ÁGUAS - THIAGO LUCARINI

Flutuo à deriva
Em águas de incertezas
Meus pés molhados
E suspensos não fornecem
A estabilidade que preciso.
Embalado em liquidez
Padeço sem itinerário
Levado pelas correntes duvidosas
Preso às correntes do pensamento.
A água é um berço ubíquo,
Um algo embrionário e traiçoeiro
Basta um deslize ou desengano
Para eu me afogar, basta um motivo
Concreto para eu ser eterno mar de vastidão. 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

POESIA - PROMESSAS DE METAMORFOSE - THIAGO LUCARINI

É chegado o tempo final.
O ciclo se encerra, do pássaro
Cai a pena, do fruto a semente,
Do Céu a vil oração.
O que será de mim
Neste sonho de radical mudança?
Terei asas? As queimarei?
Serei rico rei ou escravo barato?
Urde o tempo promessas indefinidas
E em mim, desejo de metamorfose
Cingido por um cais de ais.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

CRÔNICA - GERÚNDIO DO AMOR - THIAGO LUCARINI


    Estive por tempo demais longe do amor, deste Paraíso tão dito e aconselhado, e agora devido à inexperiência, sofro, pois este tal amor tem dois lados: a ferida e o extrato do néctar sagrado. Tudo permanece confuso, um peso no peito, nó na garganta. Olhar o objeto de espelho e não tocar é trincar o meu próprio reflexo e nesta tentativa de ser sem ser pertencente vou diluindo o eu enraizado nas incertezas, desfazendo, causando o niilismo para tão bem assimilar o que não está na tangência do olhar nem ao sopro do toque.
    Não há um algo para esperar, só o tempo com seus venenos e curas poderá atestar o que será de mim. Percebo, enfim, que o amor é a chave do condicionamento e do desarmamento, estou vulnerável, completamente indefeso, rendido. É estranho ver na casualidade como todos os cantos e cores se restringem a você, em como meu centro gravitacional cambiou de uma hora para outra e meu coração se tornou um pêndulo volúvel e traiçoeiro indo a caminhos perigosos, ora querendo morada ora querendo fugir, correr dos laços do dia que me prendem ao seu encanto perfeito e maldito.
    Confesso: ando sem fome, pernas bambas, ansioso, nervoso, choroso, ciumento, feliz, triste, estúpido, vingativo. Amor é este desequilíbrio interno em busca de águas calmas, é desorganização que queima, a solidão é mais confortável, o amor agita e mexe, abala toda solidez e estabilidade. Amor é confusão sem abstração, pois o concreto: você, a carne, o cheiro, a voz, ancoram-me a realidade dúbia dos meus pensamentos. Quero ser o seu lar. Mas algum dia poderei eu ser o seu, vício?
    Sigo, aqui, tentando desembaraçar, clarear, desfazer ou fortalecer a trama, a coluna dorsal do que construí em torno da sua imagem, te espero, porém, quero que seja feliz independente de mim e dos meus medos, e se em algum gerúndio eu tiver a honra de te amar, saiba que me fará o homem mais feliz do instante presente, pois finalmente terei um coração que aprendeu a amar.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

POESIA - PRIMITIVO - THIAGO LUCARINI

No indecifrável amanhecer do amor
Reina uma confusão absoluta, 
Um sentimento de permanência
Aliado a um indiscutível desejo de fuga.
Seria muito fácil correr aos teus braços e ficar
Assim como fugir eternamente de ti a procura de outro lar.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

POESIA - LEITO EM CURSO - THIAGO LUCARINI

O amor é um rio
De águas incertas
Porém nunca será sorte
Salvar-se em seu leito.
Não espere um bote salva-vidas
Se não pensou em construí-lo.
O amor não é fruto do acaso,
Mas, sim, processo em curso
Perpétuo, onde a água tanto pode
Matar gratamente a sede
Como cruelmente afogar
Quem ousa tocar sua superfície.

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

POESIA - O MENINO NO CORREDOR - THIAGO LUCARINI

A Leandro Pires da Silva

O menino no corredor
Observa o vazio da ausência
E espera em prece a vida chegar
Feito rio tímido de curso indistinto.
Ali, parado, à beira da grade ou parede
É parte da construção, do sono da manhã,
Da esperança primaveril da tenra idade.
O menino no corredor
Composto de pura ilusão
Faz parte da natureza imaterial
E observa um diáfano mundo
Que poucos veem ou percebem.
O silêncio é sua constante maior
E entre uma palavra e outra,
Tijolo por tijolo e sonhos sedimentar
Vai fazendo-se pilar, estrutura,
Um pedaço concreto no tempo.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

POESIA - BOTÃO PARTIDO - THIAGO LUCARINI

Estou te dando milhas.
A partir de hoje a distância
É o nosso marco principal,
A salvação de nós, a chance
De tirarmos das feridas o sal.
Espero que aí ao longe
O vento te sopre felicidades
E que o botão que agora somos
Não se parta antes
De a primavera
Sobre nós e por nós
Em coloridos arranjos nascer.

POESIA - CARNE DESFEITA - THIAGO LUCARINI

Conjugar o verbo do eu
É um imperativo de poder
Do substantivo ‘alma’ subjetivo.
O verbo feito carne impreterivelmente
Deve inverter sua ação gramatical
E no papel dos dias assemelhar-se
Em gênero, número e grau a outro semântico
Seja por afinidade, alegoria ou amor.
Conjugar-se por si só será sempre solidão
Puro pecado contra as relações
E infundado capital niilismo
De uma carne desfeita de significado. 

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

POESIA - NOITE SEM PELE - THIAGO LUCARINI

A noite sem pele
Despida de estrelas
Tombou nos braços do dia
Descolorido sua prima agonia.
Lamentou ser efêmera apesar
De ser o berço da eternidade
Quis beber de um tempo maior,
Um espaço de descanso capaz
De verdadeiramente subjugar
Toda a poeira do cansaço
Potencial estrela inversa. 

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

POESIA - A VERDE DE SEM MIM - THIAGO LUCARINI

Não há verdade
A ser defendida
Voz a ser ouvida
Quando tudo é mentira
Dependendo do ângulo
De simetria que é o outro.
Meio-termo, meia-verdade
Tudo é morno, período morto.
Minhas palavras não revelam
Verdade alguma, pelo menos,
Não uma que caiba em outros.
Pois ao alheio cabe o nexo,
Sua própria sina
De autoafirmação
Sustentada no diverso.

sábado, 2 de dezembro de 2017

POESIA - FASCÍNIO DA MORTALHA - THIAGO LUCARINI

O que é de mim
Se sou feito
De matéria indefinida
E de um algo
Ainda menos palpável?
O que engessa a dureza
Dos ossos que sustentam
Esta carne e alma
De liquidez presente?
À parte do eu físico e moral
Qual rigor final cobrirá-me
Em fascínio de mortalha desfeita no tempo? 

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

POESIA - HABITA-ME - THIAGO LUCARINI

Coabita meu lar
Sejamos comuns unidos
Longe de sermos estranhos isolados
Assolados por fantasmas de abandono.
Abriguemo-nos mutuamente no amor,
Espelhos de significação
Unidade num só querer.
Sem pudores habita-me
Fôlego do meu espírito
E não haverá sobre a face
Da Terra casa mais forte
Pois não existirá solidão
Que vença suas paredes
Ou queda para ruína.