quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

POESIA - CARTOMANTE MÍSTICA E POETA HUMANO - THIAGO LUCARINI





A cigana cartomante
Pediu para ler minha mão
Vestida de linho e destino
Pudera minha mão ser um livro (passado e futuro)
Assim, leríamos ambos os enredos:
Amoroso, fatal, pálido, sem sal ou sol.
Não acredite cartomante que essas vagas mãos
Sujas de tinta e resquícios de poesia
Guardem tantos segredos e mistérios.
Talvez, tenham apenas calos demais desta vida.
Cartomante eu não sei se realmente és mística
Mas sou poeta, não sei se de fato verás o meu futuro,
Contudo, se não o vir, lhe garanto que minimamente
Lerás algumas boas e velhas poesias
Sangradas e regadas por estas mãos.
Talvez, cigana cartomante saias desta leitura
Menos sobrenatural e mais naturalmente humana
Pois, ser, por demais, humano é a sina de todo poeta
(tenho um coração aberto a tempestades
e lágrimas profundas nestes olhos rasos).
Cartomante depois de toda essa leitura (na rua dos prazeres)
Vamos a um bar e aonde beberemos chá
(sei que isso não faz sentido)
Menos sentido ainda teve o destino ao cruzar nossos caminhos
De adivinha e prenunciador.

POESIA - REGRESSÁRIO DE GUERRA - THIAGO LUCARINI





Estou voltando
Meu bem, eu estou voltando
Fique a porta
E veja-me chegar.

Deixo para trás
Todo o pranto
Tropeço nos meus pés ansiosos
Corro para casa
Para o meu canto
Para os seus braços de acalanto.

Estou voltando
Meu bem, eu estou voltando
Fique a porta
E veja-me chegar.

Volto para o seu amor
E para nossas crianças
Esqueço todo o horror
Deste tempo que estive longe
Regresso a calma
Sem guerra
Volto a minha paz
De beijos e flores.

Estou voltando
Meu bem, eu estou voltando
Fique a porta
E veja-me chegar.

O sol vai alto
Mais alto chega o meu coração
Levo algumas feridas,
Porém tenho mais sorrisos.
Feche os olhos
Já estou quase aí.

Estou voltando
Meu bem, eu estou voltando
Fique a porta
E veja-me chegar.

Sem guerra
Volto a minha paz.

POESIA - VULTO - THIAGO LUCARINI





Nascido ali
Na quina do olho
No útero de soslaio
Reside o vulto
Escuro, mudo
Pronto pro
Susto agudo.
Gira a cabeça
Mira de esguelha
De través
E procura
Cadê?
De viés
Cadê?
Cadê o vulto
Que estava ali
Há um segundo?
Já se foi!
É rápido
Senta-se
A sombra
Convexa
Oblíqua
E espera
O tempo certo
De uma ilusão.
Ele, o vulto
Está ali
Na quina do olho
No útero de soslaio
De esguelha
De través
De viés
Aguardando
Enviesado.
Num piscar de olhos
Um instante de brevidade
Já não está mais.

POESIA - BARRIL DE PÓLVORA - THIAGO LUCARINI





Houve um tempo neste acontecimento
Chamado amor em que tudo fora belo

O inverno incrédulo chegou arrasando
O sentimento mais-que-perfeito das estações

A boa relva secou expondo o solo fragilizado
Aquele amor cresceu num solo ruim, pouco aderente

Cheio de infindas excrescências e de parca fertilidade
Bastou vir o tempo de dificuldades para morrer

Para transformar-se em pó, escorrer vale abaixo
Nos olhos, o quê antes era conexão e devoção

Hoje é um barril de pólvora com pavio aceso
Consumido-se, consumindo-se, consumindo-se

No aqui-agora deste amor murcho e morto pelo frio
De escassa dedicação só resta uma bêbada solidão

POESIA - POESIA - THIAGO LUCARINI





Páginas em branco
Tingidas em cores
Por palavras abstratas
Que têm de concreto
Apenas a emoção
Extraída do coração
Perpassada junto
E através do papel
No leito deste rio
Fluente e ascendente
Chamado de: vida.