quinta-feira, 25 de outubro de 2018

POESIA - INVERSA PARUSIA - THIAGO LUCARINI

preparem-se é chegada a inversa parusia.
anjos serão imolados em altares de ignorância 
para o inferno ser expurgado do chumbo em si.
incapaz será o sangue derramado dos inocentes 
de apagar as chamas dos pilares e entranhas.
esperam estabelecer novo céu,
trata-se agora do eivar vil da alma
todo o ouro levado deixou de há muito importar.
não cabe ao carrasco ofertar, de fato, paz,
mas tão somente ser arauto de morte,
sem amor acima de tudo, jamais.

POEMA - ESPAÇOS SÓLIDOS - THIAGO LUCARINI

As horas abandonados pelo relógio 
Seguem voo próprio. Os ponteiros
São grades de uma velha e inútil prisão.
O tempo não pode ser confinado
A sólidos espaços, pois é mais útil 
A líquidos humanos que se esvaem 
Rapidamente, onde sua eternidade 
Não dura mais que um curto sopro mitológico.   

sábado, 20 de outubro de 2018

POESIA - SEMENTES E PEDRAS - THIAGO LUCARINI

quando as sementes que deixei 
pelo caminho cair, florescerem
anunciando que estive aqui
para ser disperso jardim,
o que dirão tuas ressentidas pedras
além de dores e tropeços?

POESIA - MÃO INVISÍVEL - THIAGO LUCARINI

a mão invisível que empurra a porta
fazendo ranger suas engrenagens de fechadura
é a mesma que empurra minha alma
para detrás da sombra do meu coração.
a mão insubstancial tem dedos de chuva
e cheiro familiar de desidiosa solidão.
rangem meus ossos, fechos os olhos,
a porta com estrondo igualmente se encerra.
é tempestade lá fora, e eu nuvem aqui dentro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

POESIA - OVO CHOCO - THIAGO LUCARINI

Acho que sempre fui morto
Sem anúncio oficial de morte
Completo ovo choco despercebido
Incrustado ao vulgar respirar diário.
Sou do tempo pertencente aos inermes
É a minha casca interna que está fendida
Dando nata, véu embaçado ao olhar
Me é comum a cova dos desterros. 
Será que quando, enfim, eu morrer
Estarei eu vivo pela primeira vez?  
Será que vestirei a humanidade 
Disfarçada por auréolas e asas? 

terça-feira, 16 de outubro de 2018

POESIA - NOITE NAS VEIAS - THIAGO LUCARINI

Sobre as desventuras do coração
Sempre haverá algo não dito,
Fogo ferido pelo ferro da indiferença,
Presença ida e presente ausência.
Restos de felicidades cristalizadas
São insaciáveis sobremesas amargas.
No vasto solitário do meu coração
Quando o pulsar calar nas tardes
E a noite for perpétua nas veias
Estará o amor em mim
Sepultado ao amanhecer
Sob olhos já secos e sem flores.

domingo, 14 de outubro de 2018

POESIA - VELA NO ESCURO - THIAGO LUCARINI

A luz sempre nega ao breu.
Das horas frias que me ignoram
Um dia renunciarei ao luto.
Orações de cera derretida
Uma vela no escuro
Atrás do centro esterno do quarto
É a minha esperança
Chorando lágrimas de parafina.
O espaço de duração é mínimo,
Máximo de setes dias calmos.  
Sei que a escuridão é o destino
E dos restos sólidos da chama darei ossos
A fantasmas infindáveis e a tempestades.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

POEMA - DO LADO DE CÁ - THIAGO LUCARINI

do lado de cá
a grama é mais triste,
porém um tanto mais poética.
não pinto minhas cercas
com imaginário idealizado,
minhas defesas são cruas
e minhas flores sempre nuas,
elas não fingem calor na frio
ou frescor no alto verão.
meu jardim é feito,
bem ou mal,
do mais puro de mim.

POEMA - QUANDO SOLIDÃO É A ESTAÇÃO - THIAGO LUCARINI

mudo antes de o fim da estação
cabe a mim encerrar-me primeiro,
prometer enterro e estado findo.
é o medo do abandono no tempo,
do desespero frente a novos climas.
fugitivo e preventivo, me adapto
buscando alívio das intempéries
do clima imprevisível da vida aberta.
quando solidão é a estação
todo tempo está perdido e ganho.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

POESIA - SÓ POR ESSA NOITE - THIAGO LUCARINI

Permita-me 
Ser um homem perfeito
Livre de todas as desilusões do dia a dia.
Uma vez na vida deixe-me ser
Algo além do normal, especial.
Que seus braços sejam proteção,
O calor de expectativas inquebráveis.
Só por essa noite, peço:
Construa em mim, sorrisos.
Sei que não curará minha solidão, 
Pois, já não habito a palavra.
Sou verbo desfeito da carne,
Essência regressa ao caos primal.
Portanto, preciso da misericórdia 
De quem me ofereça ilusão
Só por essa noite.