quarta-feira, 27 de maio de 2020

POESIA - TRAJETÓRIA DOS ASTROS - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Nicola Samori)

no início era um Sol forte
que guiava meus passos pelo caminho,
porém como uma Lua, fora minguando,
e eu me perdendo na escuridão.
feito um astro de passageiras promessas
eu o amei com o desespero de quem morre.
agora cheio de feridas nos pés, eu aprendi
que a ilusão não diminui a dureza das pedras
e que só posso amar o restante da carne de mim
que continua pelo caminho sem órbita.

POESIA - À MARGEM - THIAGO LUCARINI


A solidão
Sabe o número
Dos meus sapatos.
A solidão
Sabe o meu espaço
Na cama.
A solidão
Sabe o vazio
Do meu toque.
A solidão
Sabe de mim
Aquilo que desconheço.

sábado, 23 de maio de 2020

POESIA - TRAMPOLIM - THIAGO LUCARINI

chega uma hora
em que o animal
olha a casca do ovo
e já não a reconhece
como morada.
sempre existirão ruínas,
das quais, nos erguemos
rumo à outra casa.
isto pode ser sobre a vida
isto pode ser sobre o amor.

POESIA - ABAIXO DO RADAR - THIAGO LUCARINI


Voo baixo
Pois tenho
Asas machucadas.
É duro alcançar
Certas altitudes
Se o vento é faca
Se meu voo é ferida
Se as nuvens são despedidas.

POESIA - CHUVA - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Nicola Samori)

nuvens melancólicas
por que sempre choram?
estar no alto não lhes basta?
eu que estou abaixo caio sempre,
por isso, peço que se chover,
que seja chuva mansa,
pois tempestade por tempestade
trago uma dentro de mim.
assim, quando enfim,
minhas mãos tremerem em temporal
e do céu chover, eu não precisarei ter
a decência de chover só.

sábado, 16 de maio de 2020

POESIA - SAUDADE - THIAGO LUCARINI

saudade é estar preso dentro de si
junto a alguém que não está
na esquina do olhar ou à vontade do toque.

terça-feira, 12 de maio de 2020

POESIA - ESTADO FRIO - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Nicola Samori)

Estamos num período
Onde os mortos não valem
Sua última roupa
E vão à sepultura nus,
Mas vestidos de um tempo cruel.
Vão-se os mortos despidos
De dignidade, de empatia, dos seus.
E cá estamos nós de pele exposta
Também sem perceber a nossa nudez.

12.05.2020.

sábado, 9 de maio de 2020

POESIA - DEPENDÊNCIA - THIAGO LUCARINI

(Pintura: Nicola Samori)

Quantas vezes eu disse
Que essa seria a última vez?
Porém eu me traio, pois trago
Dentro de mim muito mais de você.
Toda vez que é temporal e você se vai
É como se eu deixasse de existir
E ao te perdoar por despejar raios e trovejar
Sou como um Frankenstein que volta à vida.
Meu erro foi aprender a ser forte
Tão somente ao segurar sua mão.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

POESIA - OLHO DE DEUS - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Nicola Samori)

Olho para o relógio
Como quem morre um pouco
A cada segundo seguido.
Olho para o relógio
Como se o tempo não fosse guilhotina
Amolada nas pedras da minha rotina.
Olho para o relógio
Como se compartilhássemos similitude,
Mas apenas um de nós tem finitude.
Olho para o relógio, olho de Deus,
E se Ele me vê, certamente,
É hora final, tique-taque.

sábado, 2 de maio de 2020

POESIA - EXPLICAÇÃO - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Nicola Samori)

Por favor, diga-me:
Com quantos amores falidos
Se constrói um amor verdadeiro?
Com quantas lágrimas se faz um sorriso?
E se depois da chuva não aparecer Sol
Será passageira noite ou eterna solidão?
Por favor, diga-me,
Enquanto ainda existem palavras.

POESIA - DIAS QUE PASSAM - THIAGO LUCARINI


(Pintura: Nicola Samori)

O cansaço me transborda
E não há nenhum esforço extraordinário.
Como um copo d’água inerte
Os dias foram pingando em mim
Subjugando aos poucos a forma da carne,
A força, e no silêncio, a vontade afundou.
A casa revela seu peso,
É âncora de concreto,
Pesada.