quinta-feira, 22 de abril de 2021

MEU NOVO E-BOOK: BRANQUELO

 

Os contos que compõe este e-book foram contados no Podcast, Siga a Luz. Alguns foram escritos há muito tempo, enquanto outros são bem recentes. Todos são especiais para mim de alguma forma, porém, Branquelo é aquele que julgo ser o mais necessário diante da sua mensagem.

O conto Branquelo foi escrito em 2020, durante os protestos, Black Lives Matter, em repúdio as mortes de George Floyd, Breonna Taylor, entre outros. Na época eu não quis publicá-lo, por achar que seria oportunismo da minha parte. O que foi um acerto, visto que, amadureci ainda mais o conto, além de, infelizmente, ter ocorrido, aqui no Brasil, o caso, João Alberto, na rede Carrefour. Eu acredito que, Branquelo, seja um dos meus contos mais importantes e é um texto com o qual eu realmente me emociono. Branquelo é a representação hedionda da violência vinda do Racismo Estrutural e da sociedade em que vivemos. O conto é uma ficção, mas nem de longe, deixa de ser irreal. Os horrores aqui descritos acontecem o tempo todo, todo dia e com pessoas reais, e cabe a nós, enquanto, sociedade, enquanto, humanos, a luta para mudar tais situações.

Contos presentes neste e-book:

Linhas. Agulhas. Ajuda na Estrada. Bem-vindos à Sussurro. Dia das Crianças. Senhora das águas. O Cadáver e o Abutre. Tudo O Que Vai, Volta. Hachinosu Akane. Consequências. O Poço. O Chinelos de Nelson. O Artista. Boneco de Vingança. Branquelo.

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POESIA: CACOS

 

Às vezes tenho dó de mim

Não é vitimismo

Apenas penso que se eu soubesse

De algumas quedas antes

Muito de mim ainda estaria inteiro.

MINICONTO: DIABO ENTEDIADO


        — Ah não, caralho, de novo, não.

        O capeta não gostava mais de ser invocado, cansou dos mesmos pedidos mesquinhos.

        — Você quer uma vida de luxo e blá blá blá.

        O invocador ficou estático diante da reação indiferente do capiroto enxofrento.

        — Eu devo ter feito algo errado, você não pode ser o demônio, só pode ser uma farsa.

        Satanás riu em contínua fúria e com o seu tridente fumegante partiu o conjurador ao meio. Podia estar entediado pelas eras, mas o diabo ainda era o diabo.

MINICONTO: FOME

 

            Minha filha tinha um sério problema de não querer comer nada. Compramos um estimulante de apetite de uma senhora na rua e agora ela está comendo o nosso cachorro.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

POESIA: LINHA DO HORIZONTE

 

Meus dias começam

Como se fossem uma carta de despedida

Onde a única linha escrita

Diante dos meus olhos

É o horizonte em branco

Que revela todo o vazio

Daquilo que não está mais ao alcance.

quinta-feira, 15 de abril de 2021

MINICONTO: NOVATO

 

        Dizem que era o seu primeiro dia no frigorífico, os outros funcionários não deram muita atenção a ele, quando na linha de higienização de carcaças de gado num momento de distração do novato, um gancho livre e afiado fincou em sua cabeça. O sangue jorrou. Teve morte instantânea. Toda a produção foi paralisada enquanto o IML não chegava, o corpo do novato ficou pendurado apenas como mais um pedaço de carne. Hoje não é raro alguém ver seu espectro passando pela linha de produção, pendurado num gancho, ensanguentado, a fitar o vazio.

POESIA: PERCEPÇÃO ERRADA

 

Falo das coisas como se não houve futuro

Minha visão do tempo é sempre passada.

Eu sei que a chuva de ontem não me molha,

Que o sol de antes já não me aquece,

Mas não consigo deixar de me perder

Na correnteza contrária,

Pois tenho a miséria de acreditar

Que respirava quando afogava.

POESIA: SOBRE AS HORAS

 

As horas mentem sobre aquilo que sinto,

Os ponteiros pensam que determinam

Cada batimento cada pensamento.

Determinado pelas horas

Cada uma é uma corda posta

No meu pescoço.

O tempo me consome,

Mas não sabe nada

Nada do que sinto.

POESIA: BRILHO

 

Minhas estrelas morreram

Quando deixaram de crer

Na força do próprio brilho.

A partir daí não havia luz

Que rompesse a escuridão

Que impuseram a si mesmas.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

POESIA - LEMBRANÇAS

(IMAGEM: TOMASZ ALEN KOPERA)


Há feridas que doem

Mesmo depois de muito tempo,

A cicatriz é um fantasma

Que lateja sua agonia.

A cura total é uma bênção,

Mas aquilo que morre

E não se vai completamente

É uma parte do inferno na Terra.

POESIA - AQUILO QUE FALTA

 

(IMAGEM: TOMASZ ALEN KOPERA)


Aquilo que me falta não me define

Nem me torna menor

Ou incapaz em algum aspecto.

Encaro a falta como uma oportunidade

Como um espaço para crescimento,

Pois aquilo que não tem espaço,

Acaba por morrer sufocado.