sábado, 23 de janeiro de 2016

POESIA - OVO PRIMITIVO - THIAGO LUCARINI



Tudo se resume
Ao ovo primitivo
No ninho barato
De Seu Augusto
De gosto duvidoso
Porém ser dos anjos.

O universo
É uma galinha
Poedeira de planetas
Ilusão e gemas-sóis
Suspensos em forte
Clara-Escura de
Sustentação pilar.

Cada vida original
Vem do ovo primitivo
O zigoto embrionário,
O grão de poeira
Envolto no útero de hélio.

Tudo e todos eclodem
Em pintos peremptórios
A ciscarem o quintal
Do tempo decisório
Até se vencer os ponteiros
O período de permanência
Neste galinheiro universal.

POESIA - DÉGRADÉ, TERROR TO LOVE - THIAGO LUCARINI



 
FOTO: Kirsty Mitchell
Não há para ilusões nova tinta.
Adriano Nunes

Ele pulsava triste
No terror do limite do inexistir
Para Ele, o fim, era certo até então.

No seu mundo grama era lodo
O arco-íris monocromático.
Tudo se apagava em escuridão.

Cores, frutos e pessoas
Morriam de desespero aguado
Tendo apenas bálsamo amargo.

Ele, não queria ser Ele,
Assim, tão impessoal e sem identidade
Ali na linha tênue entre vida e morte

Decidiu reformular seu mundo
Dégradé de terror e ilusão.
Tirou, primariamente, o tom fúnebre

Do sol sempre amanhecido e choroso
Com ajuda do deus Algamar, depois
Criou uma variedade de tintas coloridas.

No seu processo de criar e alegrar
Esqueceu-se daquele hórrido ofício de morrer.
Ele achou propósito ao cobrir-se de novos prismas.

Após o seu mundo estar repleto de luz
E cores, Ele deu início a razão e ao amor, 
Desde então, ninguém morreu de terror. 

Por Ele, dégradé, hoje, se trata
Apenas de tons fortes de plena
E indelével felicidade sem farsas.

POESIA - LÂMPADA (GESTAÇÃO DA LUZ) - THIAGO LUCARINI



[...] e a hialina lâmpada oca,
Trazes, por perscrutar (oh! ciência louca!)
Augusto dos Anjos

Hialina lâmpada oca
A carregar em seu ventre
O zigoto de luz com seus
Eletrodos e filamento
A ser brevemente alimentado
Pelo condutor de circuito
O fio elétrico-umbilical
Que abre a corrente
De energia vital
Quando o interruptor
É levantado com um clique
Na noite escura, assim
A barriga hialina brilha.

POESIA - DISPARIDADES DOS VERMES - THIAGO LUCARINI



Observo disparidades
Um ex-buquê de rosas vermelhas,
Hoje, secas e cinzas
Curvadas pela fatal gravidade
E seus vermes amanhecidos.

Vermes rastejam
Na linha dos olhos
Cavando buracos
Nas emoções raras e rasas.
Meu mundo é um mar
Sem canto de sereia
No lugar da areia, sal e cal
Misturados com terra de cemitério
E outros vermes substanciais.

Vermes seguem seu rastejar
Numa gleba funesta e implacável
Neste meu corpo apodrecido.
Sinto-os por toda parte.
Sob a pele
Atrás dos olhos
Debaixo da língua
Entre os dentes
Nas paredes dos intestinos
Subindo pelas pleuras dos pulmões
Alojando-se no coração e remodelando-o.
Só o cérebro escapa ileso,
Afinal, ele tem seus próprios
Vermes-pensamentos.

Os vermes não me incomodam.
Sendo comida sou útil em vida
A algo além de mim.
E eles, os vermes, me fazem
Ver disparidades que antes eu não via
Fazendo-me enxergar a mortalidade
Minha, sob um aspecto mais humano
E muito menos artificial.

POESIA - RINOCERONTE BRANCO - THIAGO LUCARINI



 FOTO: Kirsty Mitchell

Raro
Branco
Nos prados da ilusão
Com flores que cheiram amor
Um rinoceronte branco
Vagueia com asas de borboleta
Chifres de diamantes
E olhos acesos de vaga-lumes.
Tão místico, ele, o rinoceronte branco
Está a pascer sonhos, revestido
De toda a paciência do mundo
Como se, de fato, soubesse
Que ele, não é real.