quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

POESIA - POSTE DE LUZ - THIAGO LUCARINI

FOTO: Thiago Lucarini

O poste vivia solitário.
Acreditava existir
Espaço demais
Entre ele
E seus vizinhos.
O poste nunca
Era visitado
E nunca visitava.
Não ganhava
Bom dia ou boa noite.
Seus semelhantes
Eretos são duros e frios.
Mal se ligavam por fios.
Podia fazer chuva
Sol, nenhum dos dois,
Ficar doente, estar sadio.
Nenhuma boa política
Amenizava aquela
Distância imposta.
Apesar de os postes
Serem de Luz
Tinham condutas
Escuras e avessas.
Mesmo nas noites
Quando um poste
Ficava sem luz
Outro jamais
Ia visitar o apagado,
Pois não há maior
Tristeza a um poste
Que não ter luz.
Nada os compadecia
Nada. Ao poste
Solitário, não restou
Muita saída
Teve que se contentar
Com algum humano
Usá-lo de encosto
Um pássaro
Fazê-lo de poleiro
Ou esperar o quente
Xixi de um cachorro.
Os afetos mais gentis
Que enquanto poste
Poderia ansiar.
Com seus iguais
Continuou a ter
Milimetricamente
O disposto
Espaçamento, afinal,

Nada podia fazer.

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