segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

POESIA - FERRAGENS & FERRUGENS - THIAGO LUCARINI

IMAGEM: Camilla d'Errico

Anjo retorcido, sem asas
Entre estilhaços e cacos.
Corvo de metal amassado
Flores de sucata jogada
Raios de aros empenados
Carcaças de acidentes rodoviários
Armaduras sem combate
Latinhas de cerveja furadas no chão
Armação velha de guarda-chuva
Sem cobertura não ampara chuva.
Arabescos de latão
Navios naufragados em lama
Latas de tinta sem qualquer colorido
Alumínio batido, desgastado,
Moedas de estanho sem mercado.
Vejo o voo surdo de uma
Borboleta torta, sem antenas
Antigo ímã de geladeira
Condensado em ferro barato.
Fios condutores queimados
Ossos fraturados, remendados
Com brilhantes pinos de platina
Aço cirúrgico, inoxidável, estéril
Abre o cerne de uma nova geração.
O cobre vermelho de circuitos eletrônicos
Parece veias levando dados, informação.
Baterias velhas sem fluido
Perdeu sua alma de ignição.
Teclados com fome de letras
Nada dizem, sem conexão.
Ouro raro de solda de placas
Robôs num útero em produção.
Ferragens e ferrugens
Tudo se desdobra e oxida
E só se tira as rugas de uso
Na fundição de um novo

Ser metálico polido como o sol.

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