sexta-feira, 6 de novembro de 2015

POESIA - O CRAVO EM DEFESA DA ROSA (UMA POESIA PARA AS VÍTIMAS DE ABUSO) - THIAGO LUCARINI

FOTO: Thiago Lucarini

A todas as meninas, garotas, mulheres vítimas de abuso

Havia um jardim de terra estéril
Ali nasceram várias flores de plástico,
Incluindo eu, o cravo, tive a sorte
De criar raízes, próximo a uma roseira.
O que a princípio poderia ser uma estória
Bonita e encantada, na verdade, é triste.
A roseira ainda quando não passava
De um tímido rebento ansiava ter suas rosas
E um dia as teve, porém ela não dispensava
A mesma atenção a todas as suas crias.
A segunda rosa nascida era deixada de lado
Apesar de ser doce e gentil, a roseira
Não se importava com ela, desprezava sua inocência
Renegava fortemente sua filha-rosa
Blindando sua visão para o maldito corvo
Que importunava a vernal flor por sua majestade.
A tímida rosa tentava escapar das garras afiadas do corvo
Às vezes conseguia, às vezes não
Viver de ás vezes é algo cruel demais.
A rosa sozinha no alto da roseira chorava suas pétalas
Não havia quem a salvasse do corvo
O Jardineiro parecia estar sempre longe demais.
O corvo tentava machucá-la de todas as formas
A pobre e honesta flor. Ele ansiava sua singularidade.
Tristemente a rosa frágil se machucou em suas garras, pois
Não tinha espinhos suficientes e necessários; e a roseira
Dava apoio ao corvo; ela desejava (na sua concepção distorcida)
Que aquela horrenda rosa da ramagem lateral sumisse.
Eu tremia de pavor, não entendia o porquê
A rosinha de nada tinha culpa, destino inexplicável
Irreparável. As outras flores mudas nada diziam
Fingiam que não viam e não escutavam,
Mantinham um silêncio mortal e igualmente cúmplice.
Eu observa a rosa e a admirava,
Pois apesar de todos os horrores sofridos,
Dos ataques covardes do corvo; a gentil rosa sorria
Mesmo nos dias em que mais ansiava que sua primavera terminasse.
Eu enquanto cravo não sei se conseguiria
Esconder todo meu padecer atrás
De um sorriso ainda assim tão puro.
Guerreira rosa-filha-renegada não desista ainda
Sei que outras tantas rosas não suportariam nem suportam
O que você passa diariamente, peço: SEJA FORTE mais um pouco.

Para mim ficou claro que nem toda roseira deve florescer
A rosinha infelizmente nasceu numa rama podre e temo por ela.
Eu queria que ela gritasse até o Jardineiro escutar,
Que gritasse ao mundo os abusos do corvo
E a negligência, conivência e omissão desta roseira em questão.
Contudo, sei o quanto ela o teme, sem o apoio
De sua genitora: estéril sentimental.
A rosa acredita não ter chão firme, crê estar abandonada
Num solo-mundo terrivelmente cinza e frio.
Mas escute:
“Eu, o cravo, estou em sua defesa aqui embaixo: flor, rosa, menina.
Grite! Grite ao mundo os absurdos que sofre
Denuncie aqueles que covardemente te fazem sangrar.
Espante este corvo maldito e, por favor,

Sobreviva além desta roseira que jamais a mereceu.

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