quinta-feira, 12 de novembro de 2015

POESIA - O CRAVO EM DEFESA DA ROSA - PARTE II - THIAGO LUCARINI

A todas as meninas, garotas, mulheres vítimas de abuso

Hoje trago outro relato triste.
A roseira continua seu jogo de crueldade
Como se não bastasse o corvo traiçoeiro
Abusando da rosa diariamente; a roseira
De sentimentos estéreis e vítreos sem razão
Intensificou as agressões gratuitas, agora diárias
Contra sua cria negada, ela usa seus espinhos
Hercúleos para ferir a gentileza da rosa
Para despedaçá-la e está conseguindo.
A rosinha está mais triste, sem sorriso
Apagada, a vida não lhe faz sentido
Temo por sua integridade e sanidade.
Há pedaços de nós que quando quebrados
Não se remendam nem se colam e servem
Apenas para abrir novas feridas, e enfim,
Subjugarmos o mal exógeno nos atirando
Sobre os cacos deixados e rezar para sangrar
Esvair, deixar a vida, as cores, o perfume,
Pois a morte se apresenta como um grato consolo.
A repulsa e ódio da roseira são nítidos e cruéis
Parece-me querer exorcizar seus demônios
Na maciez das costas da rosa inocente e calejada,
Todavia, os calos não diminuem nem enganam a dor.
Pergunto-me qual o propósito do Jardineiro em tudo isso
Eu não o entendo, peço que eu seja apenas
Um ignorante nato e infloral nesta inglória observação.
A rosa flagelada está perdendo suas pétalas
Não existe mão para afagá-la e limpar suas lágrimas
A cada dia aparecem novos machucados
Nas pétalas e na alma torturada da rosa; o jardim
Continua mudo, imoto, e eu, o cravo, relatando
Os crimes da roseira, ansiando que a rosa
Ganhe liberdade, salvo-conduto do seu cárcere
Desta linhagem-ramagem de naufrágio e condenação.
Espero que para a roseira e para o corvo
Chegue merecido castigo, restituição infame
Punição, a cólera do Jardineiro e das flores, antes
Que a rosa enforque sua doce primavera
E afogue-se num socorro não dito, maldito.

Alea jacta est! Para o bom e para o perverso.

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