FOTO: Thiago Lucarini
Uma poesia para mulheres vítimas de violência
doméstica
Continuo
observado meu lar: o Jardim Estéril.
A
margarida se casou cedo com o jasmim
No
início tudo parecia muito promissor
Um
legítimo conto de fadas, uma lenda
A
ser escrita com letras douradas.
O
jasmim era um verdadeiro cavalheiro
Porém
escondia algo sombrio e nefasto
Sob
a máscara de falsas gentilezas da conquista.
O
jasmim não gostava de ser contrariado
Na
sua doentia concepção controladora
A
margarida devia servi-lo incondicionalmente
Na
hora em que ele bem entendesse
O
jasmim se achava um rei inquestionável
A
margarida não era somente uma esposa
Mas
também uma abdicada serviçal.
A
margarida não percebeu seus desvios de conduta
Até
ser tarde demais, fato do qual se arrepende.
Com
o tempo a situação tornou-se pior
O
jasmim agressivo, por coisas sem nexo
Iniciou
uma onda de rotineiras agressões
Físicas,
verbais, sexuais e morais
Contra
a inerme margarida, que chorava
Suas
pétalas quebradas e maltratadas.
Ela
passou a sentir-se a cada dia mais feia
Não
conseguia achar o seu perfume
Esqueceu-se
da primavera e vivia só de invernos.
Ninguém
do jardim atrevia-se a ajudá-la
Valendo-se
da máxima:
“Em
briga de flores ninguém mete o espinho.”
Nessa
levada, a silenciosa flor, se perdeu
Acostumou-se
a ser saco de pancadas
Afinal,
devia ser submissa, sempre a ensinaram assim
O
jasmim, por sua, vez era um crédulo no seu direito
De
exigir e educar pela força e não pelo diálogo.
Ele
reproduzia o comportamento que aprendeu
No
jardim de sua infância. Obviamente, que
Para
a margarida não era tão fácil denunciá-lo
Mais
que tudo, ela tinha medo, e o amava
Independentemente;
um amor distorcido.
A
margarida não sabia o que seria dos seus filhos
Se
ficasse sozinha, sentia-se incapaz e baixa.
Além
do mais, o jasmim, não era mal sempre
Somente
quando ela o desapontava, a culpa era sua,
Só
precisava tomar um pouco mais de cuidado.
E
este pensamento da margarida continuou
Ela
nunca chegou a falar com o Jardineiro
Numa
noite qualquer o jasmim voltou bêbado de pólen para casa
Na
tarde seguinte a margarida eclipsada foi velada e as florzinhas
Destinadas
a abrigos de outros jardins hospitaleiros.
A
margarida não teve chance de se defender
E
não terá outra chance de viver e mostrar sua primavera.
Digo
as outras flores que padecem deste mesmo mal:
“Não
aceitem um amor quebrado que somente
fere.”
Ninguém
deve viver de migalhas de um falso amor
Nenhuma
flor deve perder suas pétalas em brigas.
Femininas
flores vernais e maduras achem seu valor
O
seu brilho roubado pela opressão esmagadora.
Logicamente
que sei que nada é tão simples
E
que o adubo da fé, ás vezes, é escasso
Porém
não há complicação sem solução maior que a morte.
Por
isso, flores violadas, lutem! Vocês são capazes.
Eu
nada pude fazer pela margarida, mas estou aqui
Abrindo
estas palavras para dizer ao vento:
“Por
mais escuro que um jardim seja,
nenhuma
flor está de fato sozinha, por favor,
não
seja a próxima margarida enterrada
sob
o triste manto de um amor infloral.
Fantástica poesia, bela mensagem. Você descreveu no mundo das flores o que acontece na vida dos humanos e infelizmente muitas margaridas tem medo de contar ao jardineiro as retaliações que recebem.
ResponderExcluirObrigado pelo retorno positivo.
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