segunda-feira, 16 de novembro de 2015

POESIA - A LÍNGUA DE ALOBARAP-ARVALAP - THIAGO LUCARINI

Nunca existiu língua
Mais difícil de ser aprendida
Seja escrita, falada ou por sinais
Do que a do país de Alobarap-Arvalap
(A língua e a Nação têm o mesmo nome).
Ninguém sabe a razão
De tal situação enigmática.
Os pais dali não conseguem transmiti-la
Direito aos filhos. Os Alobarap-arvalapianos
Só conseguem dominá-la com perfeição
Após os 70 anos de idade ou mais,
A maioria dos cidadões morre
Antes de ter um eficiente domínio linguístico.
Mesmo nas escolas é dificultoso lecionar
Pois grande parte dos sábios anciões
Estão cansados ou doentes demais para ensinar.
A Alobarap-Arvalap possui inúmeras interpretações
Infindas figuras de linguagem não domadas
Numerosas metáforas complicadas e dúbias
Além de neologismos serem adicionados diariamente
E haver o regresso corriqueiro de palavras em desuso.
Alguns moradores usam de exagerados pleonasmos
Há ainda aqueles que só se expressam por tautogramas
Em uma defesa extremista da letra pela qual tem afinidade.
É astronomicamente trabalhoso decifrar os Signos Línguisticos
De Alobarap-Arvalap, pois são mutáveis sem conformação
É quase impossível determinar, precisar, racionalizar
Uma Sincronia ou Diacronia. Ali tudo parece novo, tudo parece velho,
Tudo é atemporal, tudo é cíclico, tudo é irracional.
A Alobarap-Arvalap é considerada por muitos um paradoxo
Sua sintaxe e semântica são indistintas e sem previsão ou precisão.
A Pragmática de Alobarap-Arvalap é um mito esfumaçado sem contexto
Quase nada da linguística comum é usado naquele lugar. 
A Alobarap-Arvalap trata-se de uma língua
Em plena e constante expansão é mutante
Nunca finda, sem horizonte, sem limites
Apesar dos muitos séculos de existência.
Todavia é inegável sua beleza praticamente
Feérica, a cadência e o tom hipnótico
Daquela língua virgem e sobrenatural
Pelo desafio lógico que representa.
Muito se especula sobre sua origem
Alguns dizem ser um código linguístico
Deixado por alienígenas, os Filhos das Estrelas.
Outros dizem ser um presente dos Arcanos do Além.
Há os que crêem tratar-se de uma dádiva
Concebida pelos deuses do velho mundo.
E tem aqueles que afirmam ser a Língua Primeva, vinda
Do ciciar das folhas das árvores maduras do Jardim da Criação
O Sistema de Signos do Alvorecer do Éden
Antes de ser diluído e desmembrado na Torre de Babel
E que por isso, fatalmente lembra a Tudo e fatalmente não lembra Nada
Alobarap-Arvalap carrega o fado de azar e de sorte, uma antítese natural.
O fato é que ninguém jamais soube ou saberá
Qual é a nascente, a raiz de Alobarap-Arvalap
Fator este que torna a língua excepcional.
Quando algum forasteiro por engano
Chega a Alobarap-Arvalap o caos está feito
(Pois aquele é um país evitado e isolado pela falta
De estabelecimento de diálogo em qualquer grau).
Tal evento inesperado e problemático
Exige uma comunicação por sinais
Nunca por fala ou escrita.
Mesmo os sinais de pouco valem
Pois assim como a fala e a escrita
Estes não têm uma estrutura formal
Ou mínima organização significante.
Cada Alobarap-arvalapiano possui
Uma interpretação própria e sentimental
De um determinado sinal; e sua leitura
Sempre é considerada certa e irrefutável.
Nenhum Alobarap-arvalapiano diz
Que o outro está errado em sua manifestação
Ali vale a máxima: “Todos estão certos.”
E realmente estão. Não há discussão ou ditame.
Alobarap-Arvalap é uma língua de mistérios
Bela por sua dificuldade e singularidade estabelecidas.
Ninguém jamais poderá descobrir seus segredos
Por completo. O motivo de ser tão árdua de aprendizado.
Os Alobarap-arvalapianos apesar da dura tarefa
De expressarem-se gostam da língua materna desafiadora
Ela os torna únicos e intocáveis de muitas formas,
Pois eles estão livres de interferências externas a sua sociedade
A Alobarap-Arvalap de Alobarap-Arvalap é uma redoma protetora
O estigma inapagável de uma Nação de cultura e costumes ímpares.
Eu ainda me pergunto o que faz de Alobarap-Arvalap
O mistério surreal e absurdo que o é. Alobarap-Arvalap fez-se lenda

Uma incógnita apoteótica para o tempo e não para os homens.

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