quinta-feira, 5 de novembro de 2015

POESIA - HOTEL - THIAGO LUCARINI

FOTO: Thiago Lucarini

Fumaça branca na noite escura
Paira sobre a cidade sonolenta
Parece um fantasma, o arauto
Agourento de um velho xamã.

Vejo deste lugar urbano e impessoal
A vida passar. Vejo apoiado numa janela
Que já bebeu tantas legítimas vidas,
Ela até me tenta, mas prefiro: ver.
Ver me basta. Ver a vida em suspensão
Longe de mim, ela não pode passar
Pela janela que bebe vidas como óleo.

Vejo tudo desta abertura gutural.
Assombrado Hotel Califórnia
Anarquista Cortez paralisado.
O fluxo parece mais fácil do lado de lá
Tenho a eternidade líquida e gelo no balde
Neste quarto barato tenho invulnerabilidade.
Gostaria de ter a mesma ciência
Para os meus sentimentos plásticos,

Pois no coração não há janelas
Nem quarto de hotel nem invencibilidade
É uma bomba: atômica, cárnea, tola
Podendo explodir-se com os elementos:
Amor, tempo e colesterol.
Não há quarto de hotel que salve
Qualquer tipo de coração: bom ou mal.

Por enquanto, fecho a janela.


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