sexta-feira, 6 de maio de 2016

POESIA - SANGUE NO JALAPÃO, A ORIGEM DO CAPIM DOURADO - THIAGO LUCARINI

Há muito e muito tempo
Numa era de contentamento
Jaci, a bela deusa lua fora capturada
Numa noite clara por um deus menor
Do panteão brasileiro chamado Dorado.
O deus ciumento da alegria dos deuses-reis
Fez de Jaci sua prisioneira numa região isolada
Do Brasil ancestral aonde hoje se encontra o Jalapão.
Lá a fez cativa numa cela de galhos de árvores
Retorcidas do cerrado embrionário trançados
Com o poderoso capim verde da esplendorosa região.

Tupã, Senhor de todos, ficou desolado.
Pediu ajuda a todos os seus filhos e servos
Para procurarem sua amada levada.

O Sol a tudo observava. A noite não tinha mais lua.

Até que um dia chegou num sussurro dos ventos do Sul
O paradeiro ermo do raptor e de sua vítima.
Tupã, sem demora, montou numa nuvem-corredeira
Com toda sua glória guerreira em posse de sua juba do sol.
Dorado corajosamente enfrentou Tupã, contudo, perdeu.

O deus menor fora despedaçado sobre o capim da fecunda relva
De todo o lugar tingindo com seu sangue imortal a vegetação rasteira
Com um tom amarelo-dourado onírico, símbolo eterno da vitória
Do grande Trovão sobre o sequestrador de esposas.

E assim, nasceu o Capim dourado, no atual Jalapão no Tocantins.

Tupã, vitorioso, voltou ao seu trono no firmamento
Em posse de sua formosa esposa, que num vasinho
Trazia consigo uma muda de Capim dourado
Para enfeitar os Jardins da Lua do Palácio das Nuvens.


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