POESIA - LEIF, O TRAIDOR DE RODIART - THIAGO LUCARINI

Leif fora sentenciado à morte

Acusado de alta traição.

Na vila de Rodiart, a mentira,

O engano e a traição só são

Saldados pelo preço da morte.

A execução de Leif estava marcada

Para o pôr do sol. Ainda era zênite.

O jovem garoto tentou de tudo em sua defesa

Mas nada do que falou surtiu efeito.

As provas não foram, de fato, convincentes.

Leif olhava o sol começar a declinar no horizonte

Igualmente sua vida descia rumo à escuridão,

Assim como a chama de uma vela que queima até fim.

Leif não chorou. O povo de Rodiart não merecia suas lágrimas,

Porém lamentou pagar por algo que não fez.

Não fora ele quem roubou Oleg, a flor do jardim do inverno

E a entregou a Vila Veraneio. De qualquer forma

A culpa da traição recaiu somente sobre si.

Lief nunca tocou na flor de gelo, não poderia,

Ele jurou protegê-la com a vida. Naquela tarde fatídica,

Estava de prontidão, vigilante como um falcão, e de repente

Tudo apagou, acordou com a redoma da flor em suas mãos.

Logo o restante da guarda chegou. Sem chance de argumentar

Fora imediatamente preso e interrogado. Leif jurou inocência.

Ninguém acreditou, tanto que sua morte fora prescrita sem remédio.

A hora chegou. Leif percebeu como ironicamente o pôr do sol

Estava magnificamente belo. Ele foi levado ao seu cadafalso

Banhado pelo ocaso, e colocado de joelhos em frente à guilhotina,

Sua cabeça fora posta na reentrância em meia-lua de madeira,

E presa entre as tábuas do objeto de decapitação.

Toda a sentença fora proferida em arauto de mau agouro.

O povo todo o via. Havia ali uma mistura de pena e alegria.

O carrasco sem delongas soltou a lâmina pesada e afiada,

Que fez um corte limpo e reto no pescoço macio e inerme de Leif

Sua cabeça rolou por alguns metros feito um melão velho atirado aos corvos

Seus olhos se fecharam, mas antes a cabeça registrou o sorriso maquiavélico,

Do Alto Sacerdote da Igreja de Sacristán, Odapluc, o maior defensor

Da coalizão entre Rodiart e Veraneio. Mas que secretamente acreditava

Que para se chegar à paz definitiva primeiro deveria haver o caos.

Morreu mais um inocente devido à ambição de alheios.

Ninguém nunca percebeu que Leif sempre fora fiel.