quarta-feira, 20 de abril de 2016

POESIA - ENTERRO DE UM AMIGO - THIAGO LUCARINI

[...] o despercebido trabalho dos coveiros
na hora mais triste de seu ofício:
a de serem enterrados por outras mãos.
Gabriel Nascente

A pá se atirou sobre o caixão
Em busca da cálida e calejada mão
Que pelo seu corpo tanto andou.
Eram cúmplices na diária missão. 

Em função, porém inconformada
A pá jogou o último punhado
De terra barata sobre o perdido. 

Chorou a pá o pó 
Secas lágrimas vermelhas
Nem uma rosa rubra pôde comprar.

A pá no sacrilégio do ofício
Enterrou seu velho amigo, clichê
Morreu num dia de chuva, o coveiro.

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