Nenhum
menino é inocente.
Pode
até ser ingênuo, mas inocente
Jamais.
Aquele
menino em específico
Ficou
mau logo cedo (como todo menino).
Sozinho
em seu quarto
Descobriu
uma roliça, tímida e rosada lagartixa
Sempre
exposta à parede do corpo,
Da
qual rapidamente ficou íntimo.
A
criatura branca, sempre escondida
O
intrigava. Eles brincavam se cutucavam
A
lagartixa eriçada, de vez em quando (sempre)
Levantava
sua cabeça curiosa do esconderijo avaliando seu amigo e o mundo desconhecido.
Mas
o menino ruim de espírito
Descobriu
prazeres inconfessos, toda vez
Que
se sentia nervoso, injuriado
Procurava
sua amiga lagartixa,
Tocava-a,
alisava, acariciava a hirta lagartixa
Ela
recebia a tudo silenciosamente, ás vezes, o menino
Chegava
a tal ponto de machucá-la
Expondo
seu êxtase, pobrezinha, essa nada dizia, nunca.
Depois
dos abusos inúmeros do menino
Ela
voltava para sua casa e dormia escorregadia, esperando novo amor
Ou
surra. Apesar de tudo eram inseparáveis.
Aquela
fora uma época de grandes descobertas.
O
menino cresceu, tornou-se homem
E
a lagartixa, bem, continuou lagartixa, contudo mais experiente
Ela
achou doce prazer em sua silente (e não mais tortura) diária.
Calejada
ao final de cada ciclo de missão cumprida
Cuspia
um rio de brancas palavras não ditas
A
escorrer na mão do menino-homem fascinado.
Ambos
cúmplices, donos de uma amizade verdadeira
Esperavam
ansiosos o carinho mútuo produzido
No
silêncio da cumplicidade que somente um homem e sua lagartixa podem ter.
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