sexta-feira, 14 de outubro de 2016

POESIA - FOME - THIAGO LUCARINI

FOTO: Thiago Lucarini

Os pratos estão limpos
Sobre a mesa posta.

A solidão comeu tudo
Lambeu das migalhas aos ossos.

Os pratos são nuvens de porcelana branca
Num céu de triste marfim decadente

De alianças-sóis de pouco brilho
Abandonadas no vazio, sem firmamento.

Os talheres deixaram sua função de servir
Para repousarem frios, estrelas opacas.

Taças, xícaras e copos bebem da nostalgia
Do tempo líquido feliz já passado.

O forro da mesa em memória solene
Sangra suas velhas manchas de ex-felicidade.

Lá fora silenciaram os pássaros, o vento e as flores.
Dentro, ratos de humor negro riem da minha desventura

Roendo os restos do meu coração duro, pão amanhecido.
Através da janela vejo a chegada daquela que serei alimento.

Não haverá mais lanches, almoços ou jantares.
Reina soberana a fome de indeterminada saciedade.

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