FOTO: Thiago Lucarini
Os pratos estão limpos
Sobre a mesa posta.
A solidão comeu tudo
Lambeu das migalhas aos ossos.
Os pratos são nuvens de porcelana branca
Num céu de triste marfim decadente
De alianças-sóis de pouco brilho
Abandonadas no vazio, sem firmamento.
Os talheres deixaram sua função de servir
Para repousarem frios, estrelas opacas.
Taças, xícaras e copos bebem da nostalgia
Do tempo líquido feliz já passado.
O forro da mesa em memória solene
Sangra suas velhas manchas de ex-felicidade.
Lá fora silenciaram os pássaros, o vento e as flores.
Dentro, ratos de humor negro riem da minha desventura
Roendo os restos do meu coração duro, pão amanhecido.
Através da janela vejo a chegada daquela que serei
alimento.
Não haverá mais lanches, almoços ou jantares.
Reina soberana a fome de indeterminada saciedade.
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