sexta-feira, 7 de outubro de 2016

POESIA - ESPECTRO DA MORTE, ENFADO DA VIDA - THIAGO LUCARINI

Escondemos a morte com tanta habilidade que quase daria para acreditar que somos a primeira geração de imortais.
Caitlin Doughty

Os ventos da noite eterna
Levam o pó daquilo que em luz foi humano
Ao início da não-existência concreta.

No espectro do dia
A vida líquida
Corre rumo ao mar da morte.

As horas falidas
Atuam sobre as células
Provocando apoptose.

Idílico fúnebre
Enrijecem as fibras, as linhas
No silêncio do rigor mortis.

A morte certifica
Toda a humanidade esquecida
Para o derradeiro olvidamento.

Sepulto o cadáver
Ri a vida, enfim, livre do fardo
De um, entre tantos parasitas dos teus seios.

Chora a morte
O peso de um novo morto
A envergar-lhe as costas, sem escapatória.

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