sexta-feira, 26 de agosto de 2016

POESIA - MORTOS ELEITOS - THIAGO LUCARINI

No cemitério
Estava a ocorrer
Um rebuliço de morrer.

Os mortos queriam eleger
Um novo governante
Paras as almas andantes.

Numa mixórdia ideológica
Não chegavam nunca a um consenso.
Um morto queria ser melhor que o outro.

Os mortos lunáticos sem descanso e candidatos
Juravam não feder, não ficarem só parados apodrecendo,
Que seus cérebros não eram apenas uma torta de vermes.

Todavia, esqueciam-se que aonde o vento faz a curva
Nenhum algo cresce reto: homens, animais,
Plantas, sonhos, deuses, a morte, os mortos.

A ladainha discursiva durou uma parcela da eternidade, houveram debates,
Promessas, discursos de mudança da abulia, no fim, o morto mais maquiado
Fora eleito sem elegia, mas nada, nada mudou no cemitério de almas penadas,

Pois em suas essências os outros mortos votaram na ilusão,
Naquele morto que é o espelho de si; o presidente das almas
Deixadas está tão morto quanto os outros, sem fuga do sistema. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário