sexta-feira, 26 de agosto de 2016

poesia - hora morta - thiago lucarini

o relógio tem
suas horas mortas,
diferentemente de suas horas findadas.

é um tempo envolto em gelatinosa parafina
relógio frio de sangue coagulado, estagnado,
réptil esperando sol para mover suas articulações empedradas.

hora morta
é aquela cansada, arrastada,
que não passa nem a custo de reza brava.

teias invisíveis formam uma rígida mortalha
a segurar os ponteiros, engessando o avançar,
a descida da hora à sepultura dos sessenta.

são horas que tomaram para si
a sonolência opaca dos mortos imóveis
e suspiram seu tique-taque estático,

morosas, demoram, e quando,
de fato, deixam o relógio, para de vez, morrerem,
as novas horas correm leves, cheias de vida e alegria.   

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