sábado, 16 de janeiro de 2016

POESIA - OS MORTOS DE CADA ESTAÇÃO - THIAGO LUCARINI



 FOTO: Kirsty Mitchell

Os mortos da primavera
Sorriem mais e têm menos
Ranço e azedume
Quase cheiram bem, quase.
As flores no caixão
Dos mortos da primavera
São as mais vivas e deixam
Os mortos corados
Mesmo quando brancas.

Os mortos do verão
São moles, preguiçosos
Derretem-se fácil
São de areia e sal
Sobem ligeiros ao Céu
Explodem como fogos de artifício,
Líquidos se esvaem rápido
Têm quase mais alegria que morte
Pois no sol suam sua tristeza.


Os mortos do outono
São introspectivos, não falam
Dormem demais, sequer sonham
Têm fina poeira nos olhos.
A vida não lhes faz falta
Nem há tanta diferença
Do vivo que este foi
Do morto que agora o é.
Sua seriedade e sonolência
Vem da semente que se fez
No encerrar da estação da vida.

Os mortos do inverno são duros
Perpétuos perduram-se
Em lágrimas cristalizadas
Que não saem pelos olhos
São internas, cravadas na carne
Espalhando frio e solidão
Embaixo e por sobre a pele.
Os mortos do inverno apesar
Do distanciamento de tudo
Nada exigem, nada querem
Morrer lhes bastou, em vida
Nada mais os completaram
Tão agradavelmente quanto à morte.

* Poesia que faz parte da coletânea: Literatura Goyaz Antologia 2015. Organizada pelo Adalberto de Queiroz.

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