sábado, 23 de janeiro de 2016

POESIA - DISPARIDADES DOS VERMES - THIAGO LUCARINI



Observo disparidades
Um ex-buquê de rosas vermelhas,
Hoje, secas e cinzas
Curvadas pela fatal gravidade
E seus vermes amanhecidos.

Vermes rastejam
Na linha dos olhos
Cavando buracos
Nas emoções raras e rasas.
Meu mundo é um mar
Sem canto de sereia
No lugar da areia, sal e cal
Misturados com terra de cemitério
E outros vermes substanciais.

Vermes seguem seu rastejar
Numa gleba funesta e implacável
Neste meu corpo apodrecido.
Sinto-os por toda parte.
Sob a pele
Atrás dos olhos
Debaixo da língua
Entre os dentes
Nas paredes dos intestinos
Subindo pelas pleuras dos pulmões
Alojando-se no coração e remodelando-o.
Só o cérebro escapa ileso,
Afinal, ele tem seus próprios
Vermes-pensamentos.

Os vermes não me incomodam.
Sendo comida sou útil em vida
A algo além de mim.
E eles, os vermes, me fazem
Ver disparidades que antes eu não via
Fazendo-me enxergar a mortalidade
Minha, sob um aspecto mais humano
E muito menos artificial.

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