quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

POESIA - CARTA DE UM SUICIDA - THIAGO LUCARINI



 FOTO: Kirsty Mitchell

I – A Carta de Despedida

Estou partindo
Pois não quero mais te fazer sofrer
Desculpe-me por ter te magoado.
Eu te amo e sempre te amarei
Mas não consigo mais viver com essa culpa
Incontestavelmente prefiro a morte
Esta foi a última vez em que a machuquei.

Acho que sempre fui um grande covarde
Não desta vez! Peço seu perdão.
Choro pelo fim que tivemos
Todavia, vou em paz, não quero sofrer
Neste mundo de eternas incertezas.

Beberei veneno, cortarei os pulsos,
Pularei do viaduto, me enforcarei, me esforçarei pelo fim:
Desejo a maior dor possível
Em retribuição ao mal pago que lhe dei.

De toda forma, sempre fui um tanto mais triste.
Talvez, essa seja a sina de ser poeta
E a morte prematura um fruto inevitável de ser provado.
Nunca andei em pé de fato, curvado
Rastejei pela existência, parasitário sentimental.

Peço a Deus o mínimo de compaixão
E perdão por não poder fazer parte do seu maravilhosíssimo Céu
Afinal, sempre coube a mim um destino infernal,
No qual, estive boa parte em vida.
Sou filho da desolação e incompreensão
Tenho imensos buracos incuráveis na alma.

Para Sempre nunca fez sentindo algum
Infinito foi somente meu desespero humano.
Cheguei, aonde, desde o início, achei que terminaria
Suicida, pecador.
Adeus minha amada.

Seque todo o teu pranto profundo,
Pois não serei mais o motivo dele.
Se possível for deixo um último pedido:
Ore por mim junto ao Cristo Salvador
Quando eu for parte indivisível da sepultura.

II – O Ato Funesto

Lágrimas
Corda no pescoço
Cadeira empurrada
Árvore cadafalso
O quebrado
Pêndulo humano
Pele rasgada
Traqueia esmagada
Pulmões explodem
Em agonia
A morte chega
Outro suicídio
Sem culpado.
O corpo balança
Ao sabor do vento
O vivo já não existe
E o morto sorri em paz
Liberto das obrigações passadas
Não há pesar, por enquanto.

III – Encontro

Sem julgamento
Pelo menos na morte há pertencimento,
Enquanto, os vivos não pertencem a nada
Todo morto pertence a alguém.

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