quarta-feira, 14 de outubro de 2015

POESIA - SEIO DE SANGUE - THIAGO LUCARINI

FOTO: Thiago Lucarini

tudo se foi; o próprio odor das rosas
morreu nos braços do ar que as adorava.
Edgard Allan Poe

Este seio feminil que não dá leite,
Mas empedrado sangra dolente
Sobre as flores brancas e mortas
A beira da ácida sepultura
Que exala cheiro de lácteo azedo.
Este seio vernal escolheu a castidade,
A retidão e a abdicação; é penitente
Nato, antinatural, sem apego. 
Sobram-lhe as moscas e feridas
Na pele lisa. Mastite contínua e triste
E por isso, chora sangue coagulado
Alimento dos santos mortos fadados ao árduo
Fardo de desaparecer sem deixar vestígios.
O sangue que pinga do alto seio
Lava os pecados do corpo virginal
Em purgação escolhida e bela
No intuito de a alma viver
Na Glória improvável das estrelas,
Como um amante que leva tudo
Numa abjeta promessa de amor.  

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