[...]
É fácil condenar uma vida
de fora, sem ter que vesti-la:
como saber se aquela vida
foi camisa apertada e curta
e viver dentro dela, sempre,
foi a luta contra as costuras?)
João Cabral de
Melo Neto
Vida
dada
Tão
apertada
Desproporcional
e inerme
Porém
freme e fere
Como
se tivesse à disposição
Todas
as armas mais afiadas.
A
vida sem o pertencimento
Ao
corpo designado
Tem
o abraço
De
uma serpente
Mortal
e certeira.
Quando
contrária, inversa
A
vida é uma roupa sem osmose
Sem
simbiose, sem ajuste
(As
costuras do corpo
e
da alma se desfazem)
Todavia
a vestimenta errada
Continua
intacta
Pois
tem fio inquebrantável
Não
desfia nem rasga
Por
mais que se use cega navalha
Sendo
passada somente em último instante
No
gume da lâmina fria da morte, sendo
Enfim,
depositada no guarda-roupa-caixão
Com
os devidos ajustes ao corpo do morto.
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