sexta-feira, 18 de setembro de 2015

POESIA - INDUMENTÁRIA - THIAGO LUCARINI

[...]
É fácil condenar uma vida
de fora, sem ter que vesti-la:

como saber se aquela vida
foi camisa apertada e curta
e viver dentro dela, sempre,
foi a luta contra as costuras?)
João Cabral de Melo Neto

Vida dada
Tão apertada
Desproporcional e inerme
Porém freme e fere
Como se tivesse à disposição
Todas as armas mais afiadas.
A vida sem o pertencimento
Ao corpo designado
Tem o abraço
De uma serpente
Mortal e certeira.
Quando contrária, inversa
A vida é uma roupa sem osmose
Sem simbiose, sem ajuste
(As costuras do corpo
e da alma se desfazem)
Todavia a vestimenta errada
Continua intacta
Pois tem fio inquebrantável
Não desfia nem rasga
Por mais que se use cega navalha
Sendo passada somente em último instante
No gume da lâmina fria da morte, sendo
Enfim, depositada no guarda-roupa-caixão

Com os devidos ajustes ao corpo do morto.

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