segunda-feira, 28 de março de 2016

POESIA - A ÚLTIMA REFEIÇÃO - THIAGO LUCARINI

Os vivos se reúnem
Em torno do banquete
Dado pela boa-morte.
No centro, o morto,
Sem expressão ou objeção.
O corpo fresco é comida pronta,
Porém fria e sem gosto, mesmo
Sendo temperado com lágrimas salgadas
As papilas gustativas da língua da cova
São pouco exigentes quanto a sabores.
Café, biscoitinhos, suco, água mineral
Os vivos se reabastecem sem miséria.
Igualmente a sepultura maquiavélica
Abre sua faminta bocarra
Esperando sua gentil parcela,
O morto, para mastigá-lo,
E abraçá-lo com seu estômago,
Para digeri-lo lentamente

Em toda a sua paciência.

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