segunda-feira, 28 de março de 2016

POESIA - LEGISTA - THIAGO LUCARINI

Quantos corpos eu vi em vida?
Quantos com horrendas feridas?
Quantos com a pele nata intacta?

Em quantos corpos eu fiz a abertura?
E em suas entranhas fui à procura
Da causa da morte sem lisura ou sutura?

Lesão por objeto perfurocortante,
Parada cardiorrespiratória, suicídio,
Morte natural. O fim sem condicional.

O quê me é a vida, se não um amontoado
De corpos em espera? O quê me será a morte,
Na qual, sou doutor, hoje. Serei um pássaro sem voo?

Outro corpo em espera na gaveta?
Uma alma sem ofício físico?

Um legista sem a legitimidade das leis dos mortos?  

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