segunda-feira, 21 de março de 2016

POESIA - RABECÃO - THIAGO LUCARINI

Cadáver banhado
Pelo homem vivo,
Devidamente preparado
Trajado e pousado
Entre as flores frias
Do seu caixão. O fruto
Do fim da vida
Está maduro e amargo
Pronto para sua comitiva.
Abrem-se as portas
Do rabecão, a gestação
Efêmera da morte
O guia pré-Caronte.
Sirene soa em arauto
O corpo segue
Em lenta procissão.
O cadáver chega
Ao velório. Fruto
De novas lágrimas.
Depois de chorado
Leva-se o morto
Velado para o seu carro.
O cortejo fúnebre
Vai para o cemitério
Parada final sem auriga
Se finda o último passeio.
O caixão pousa no chão
Definitivamente. Saí
O rabecão entra em cena
A gôndola e o condutor

Das águas do Estige. 

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