sexta-feira, 24 de junho de 2016

POESIA - UNHAS QUEBRADAS - THIAGO LUCARINI

Unhas quebradas
No cascalho
Do chão duro

Que não permitiram
A morte cedo chegar
Ou o pão faltar.

Unhas sujas
De terra vermelha,
Da labuta, pois carpiram

Do solo, a relva,
Para preparar
A futura colheita,

E limparam
O gélido jardim
Para as rosas quentes.

Unhas quebradas e cheias de terra trabalharam
Arduamente, sobre a Terra, e só descansarão debaixo dela
Sem nenhuma rosa quente por coração ou pão para oração.

POESIA - LEVANTE E OUSE DANÇAR - THIAGO LUCARINI

A felicidade é uma dança para os corajosos
Os covardes que ficam à sombra da pista
Jamais saberão dos embalos e melodias.

A felicidade é uma dança para os corajosos
Que viverão sob a luz do holofote, farol de amor,
Coroados pelas bênçãos das almas e das palmas.

A felicidade é uma dança predita
Compassada por corações em pares.
É a empolgação da união de dois corpos febris

Na sequência de poucos minutos, que serão
Na lembrança, um momento perpétuo,
Um espetáculo completo de gozo e paixão.

A felicidade é uma dança para os corajosos
Coroados pelas bênçãos das almas e dos aplausos
Um espetáculo completo de gozo e paixão.

Levante!
Ouse dançar!
Seja corajoso!

POESÍA - LEVANTE Y OSE BAILAR - THIAGO LUCARINI

La felicidad es una danza para los valientes
Los cobardes que quedan a la sombra de la pista
Jamás sabrán de los ritmos y melodías.

La felicidad es una danza para los valientes
Qué vivirán bajo del proyector de luz, farol de amor,
Coronados por las bendiciones de las almas y de los aplausos. 

La felicidad es una danza predicha
Acompasada por los corazones en pares.
Es la excitante unión de dos cuerpos ardientes

En la secuencia de pocos minutos, que serán
En la memoria, un momento perpetuo,
Un espectáculo lleno de gozo y pasión.

La felicidad es una danza para los valientes
Coronados por las bendiciones de las almas y de los aplausos. 
Un espectáculo lleno de gozo y pasión

¡Levante!
¡Ose bailar!  
¡Sea valiente!

POESIA - AS LÁGRIMAS DE LIZ - THIAGO LUCARINI

[...] e confirma sobre nós a obra das nossas mãos; sim, confirma a obra das nossas mãos.
Salmos 90 – 17

Liz era uma garotinha comum
Tão comum quanto ser humana
Mas havia na menina uma peculiaridade

Suas lágrimas traziam plena felicidade
Àqueles que as tocasse, pobre menina,
Todos a agrediam para fazê-la chorar.

Um dia, Liz fora surrada até chegar ao seu réquiem
Ali, à beira do fim fez um contrato com iminente a morte
Pediu à entidade que retirasse de suas lágrimas violadas

Toda a felicidade e depositasse no orvalho dos seus olhos a vil tristeza.
Assim que acordou Liz chorou sobre o mundo como nunca chorou
E inundou todos que a tocaram na mais absoluta e amarga infelicidade

Desta forma, a menina, pela primeira vez fora feliz.
E confirmou sobre nós a obra das nossas mãos;
Sim, confirmou a obra das nossas mãos.

POESIA - CHAVEIRO DO CÉU - THIAGO LUCARINI

Nesses silêncios solitários, graves,
Que chaveiro do Céu possui as chaves
Para abrir-vos as portas do mistério?!
Cruz e Sousa

Tão esperado
Pedacinho do Céu
A sorte que não oprime os fracos
Nem vos é réquiem dos sonhos.
O milagre é fruto
Da fé cultivada,
Floração das nuvens alvas
Dádiva bendita
Da presença de Deus
E entregue pelos Seus mistérios.

Sobrenatural manifestação
Do Paraíso escondido,
Epifania corajosa.
Vejo a Morada Final
Antífonas ecoam
Concedendo curas,
Águas fluem do trono
Matando a sede dos secos
Desenrola-se o manto da paz absoluta.

É chegado o tempo
De milagres sacros e concretos
Os Santos entoam cânticos.
O chaveiro-cordeiro finalmente
Coloca a chave-cruz na fechadura,
O ferrolho gira com um estalo de salmos
Rangem as dobradiças de ouro
Marcadas com o sangue da redenção
Abrem-se as portas da promessa
Para as almas salvas pelo sacrifício de Cristo
O legítimo chaveiro e verdadeiro Filho de Deus.

POESIA - GERÚNDIO - THIAGO LUCARINI

Qual é a minha identidade
Nesta realidade imediata?
Quem sou eu neste ato do agora?

Oceano ou fragata em naufrágio?
Quem sou eu hoje?
Quem sou eu no gerúndio?

Quem é o eu construído no tempo pretérito
Refletido no agora deste hoje e já
Tão distante no incerto futuro do amanhã?

Como posso eu afirmar um eu
Num tempo e realidade transitórios?
Sem padrões estáticos, de fato, só existe o ‘vivendo’.

POESIA - BOMBA ATÔMICA - THIAGO LUCARINI

Nunca esteve tão silenciosa, a casa,
Caiu uma bomba atômica no meio da sala.

A lua pálida ilumina os escombros frios
Do pouco causticado que restou da casa.

Pulverizou. Desabaram os pilares, os mares,
Recuaram as ondas. Tudo secou. Tudo.

Sou parte do pó embalado pela lua da meia-noite
E mesmo assim, desfeito, choro e lamento, pois

A dor transcende, transcende a morte, e machuca.
Acabou a casa, a casa. Acabou-se o nós.

POESIA - SONHO - THIAGO LUCARINI


Eu sonhei com o infinito
Sonhei com o passado
E tive lampejos do futuro.
O sonho é a flor da alma
Uma unidade de dimensão paralela
Pessoal e inapagável da essência pura
De cada indivíduo singular.
Equilibrista da vida
Uma balança com fiel bem ajustado
Pendendo para as vontades e anseios
Conscientes ou inconscientes.

Sonhei com seres alados
Letras voadoras e sonhadoras.
Vi um universo pleno em movimento.
Vi outros sonhando, o que foi mágico.
Nesta terra dos sonhos onde tudo é possível
Vejo janelas de possibilidades
Alertas precisos e calibrados.
Sonho: precipitação da alma
Acumulada nas nuvens de Deus,
Que chove sobre nós nas noites calmas.

POESIA - LOTERIA CELESTE - THIAGO LUCARINI

O destino dita a sorte
O tempo prescreve quando
E a alma boba espera.

Neste conchavo de esferas superiores
Só os homens aguardam em agonia dura
Afinal, estão presos ao fadário de desventuras.

Em qual instância devo recorrer?
Aonde protocolo interpelação para reivindicar?
Quero ser um sortudo antes de morrer de azar. 

POESIA - O DESCANSO DO CORAÇÃO - THIAGO LUCARINI

Descansa ó meu coração
Nos botões das flores do jardim.

Descansa ó meu coração
No canto dos pássaros felizes.

Descansa ó meu coração
No verde da relva calma.

Descansa ó meu coração
Nas asas da tranquilidade.

Descansa ó meu coração
No brilho das estrelas furtivas.

Descansa ó meu coração
No balanço de eternidade das águas.

Descansa ó meu coração
Nas brancas nuvens do céu.

Descansa ó meu coração
Nos braços do amor verdadeiro.

Descansa ó meu coração
Na fé absoluta e sem vacilo.

Descansa ó meu coração
Em vida, em vida.

Descansa ó meu coração
Em vida, em vida.

Não queira para si somente
O descanso da morte traiçoeira.

POESIA - BENDITO É O FRUTO - THIAGO LUCARINI

Bendito é o fruto
Da árvore da vida, o ventre.

Bendito é o fruto
Velado pelo santo manto.

Bendito é o fruto
Resguardando pelos anjos.

Bendito é o fruto
De toda criatura madura.

Bendito é o fruto
Concebido por Deus e pela mulher.

Bendito é o fruto
Que chega à luz do sol e ter o seu primeiro suspiro.

20/06/2016.

POESIA - O PREPARO DA CAMA - THIAGO LUCARINI

Deitei-me sobre uma cama
De corpos florescidos na morte

Morte esta que eu causei
Com meus ares de indiferença.

Calma! Não são corpos reais
Apenas personificações dos nobres

Sentimentos que executei sem o devido
Cultivo. Hoje, essa cama, me é doloridamente

Fria. Mas do que posso reclamar? Com descuido
Preparei minha cama e sobre ela me deitei,

Fui um destes tolos e falsos amores da noite
Que se vão à primeira luz do dia, vampiro sentimental.

Cravada, bem fundo no meu peito está uma estaca
De solidão uma estaca que eu mesmo finquei neste coração. 

POESIA - OS SONS MODERNOS - THIAGO LUCARINI

Os sons modernos
Sangram os ouvidos dos pássaros
Confundem o ciciar da relva
Emudecem o gorgolejar das águas
Intimidam o crepitar das chamas.

Os sons modernos
Desprovidos de harmonia
Não possuem arte natural
São apenas desarranjos, e só.
Cruéis sequer oferecem o silêncio de sabedoria. 

POESIA - BORRACHARIA - THIAGO LUCARINI

 
À beira da estrada
Da vida, uma placa dizia:
“Fazem-se remendos contínuos
               dos corações batidos.”

POESIA - FLOR DE MARACUJÁ - THIAGO LUCARINI

A flor de maracujá
Exala calma e exoticidade

Pudera eu ser uma estranha calma
De frutos agradáveis e acidez certa.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

POESIA - BLINDAGEM DE SORRISOS - THIAGO LUCARINI

Compre o melhor sorriso
Vista-o com elegância
Com um par de santidades
Coloque-o sobre a máscara de felicidade.
Seja forte! Seja bravo! Fique de pé!
Não demonstre fraqueza jamais
Faça uma blindagem de sorrisos
Enfeite-o, maquie-o, emoldure-o
Arreganhe os lábios e mostre os largos dentes
E vá até aonde puder suportar
O fardo de “o sempre feliz”,
Porém, lembre-se que o sorriso
Uma hora também entristece
Fica fraco, velho e igualmente morre.
Mas, enfim, esqueça tudo isso,
Este patético lixo poético, esterco estético
E continue exatamente do mesmo jeito.
Siga adiante com seu escudo de sorrisos
Inabalável.
                 Ereto.
                                  Destemido.
                                            Invencível.
Não deixe que vejam o rio de lágrimas
Que corre silencioso atrás da carapaça.
Apenas tome cuidado para não se quebrar
Durante a longa jornada e lhe sobrar
Somente falsos sorrisos esquecidos.
Vamos! Vamos! Corra e salve seus sorrisos
Cate-os como migalhas rançosas e esfareladas
Junte-os no saco velho para corvos chamado Rosto.
E então, eu, inútil sarcástico perguntarei:
— Já colocou o seu melhor sorriso hoje?

POESIA - INDEFESA - THIAGO LUCARINI

Pisavam-na. Mas sendo flor, só sabia perfumar quando esmagada.
Lucas Lujan

A flor machucada
Sangra bom perfume

Apesar dos espinhos
Santa flor não sabe ferir

Sua coroa de acúleos hirtos
É escudo mole e não espada dura.

Resta a nobre flor de doce candura
Perder suas pétalas, a beleza, o mel,

E marcescível sangrar junto à sarjeta
Sua indefesa fragrância de ferida flor.

POESIA - A BALANÇA, O CORAÇÃO E AS ROSAS - THIAGO LUCARINI

Pende o fiel
Meu coração pesado
No prato da balança
Quebra o piso do tribunal.

Condenado, impreterivelmente
Condenado pelo ato de te amar.
Cumprirei com alegria minha sina
Sou réu confesso do amor maior.

Saio do tribunal ao invés de algemado, distribuindo
Rosas, pois sou um apaixonado incorrigível,
Poeta dos pares, incomensurável não aferível
Por balanças de ouro material, frio e impessoal.

Somente as rosas podem me julgar
Com exatidão e dignidade, pois somente,
E tão-somente elas sabem do amor
Que solenemente trago no meu coração. 

POESÍA - LA BALANZA, EL CORAZÓN Y LAS ROSAS - THIAGO LUCARINI

Pende el fiel
Mi corazón pesado
En el plato de la balanza
Quiebra el piso del tribunal.

Condenado, indiscutiblemente
Condenado por el acto de amarte
Cumpliré con alegría mi hado
Soy reo confieso del amor mayor.

Salgo del tribunal al revés de esposado, compartiendo
Rosas, pues soy un enamorado incorregible,
Poeta de los pares, inconmensurable y no cotejado
Por balanzas de oro material, frio y impersonal.      

Solamente las rosas pueden jugarme
Con exactitud y dignidad, pues solamente,
Y tan solamente ellas saben del amor
Que solemnemente cargo en mi corazón.    

POESIA - SINCRÉTICO - THIAGO LUCARINI

Um dia
Na História
Do tempo
Filosófico
E criativo
Fez-se
Do barro
Um místico
Ser sincrético.
Juntou o Escultor
Neste amontoado
Moldado
Amálgama
De diversas ideias
Doutrinárias
E contrárias,
Formativas
E somativas
Do todo.
Vida e morte
Santidade e pecado
Loucura e sanidade
Céu e inferno
Amor e ódio
Poeira e eternidade.
E assim, foi feito
O homem primeiro.

POESIA - CONTRÁRIO - THIAGO LUCARINI

Not one would mind, neither bird nor tree,
If mankind perished utterly;

And Spring herself, when she woke at dawn,
Would scarcely know that we were gone.
Sarah Teasdale

A morte deve ser branda,
Pois a vida é dura e amarga.

A morte deve importar-se com o bem
Uma vez que ninguém significa enquanto vivo.

A morte deve ser como o beijo
De um vaga-lume na noite escura.

A morte deve ser quente e acolhedora,
Pois viver é um ato de frialdade e solidão.

A morte deve ser agradável de ouvir
Assim como o repicar dos sinos da capela velha.

A morte deve ser macia e branca
Feito uma cama de perfumados crisântemos.

A morte deve ser Primavera eterna
Sem mancha do tempo nas pudicas flores.

A morte deve passar semeando promessas
Com sua passagem só de ida para o grande além.

A dor deve ser efêmera
Ante a redenção gloriosa da morte

POESIA - RECRIAR - THIAGO LUCARINI

Despencaram do céu as estrelas
Nossa relação murchou
As flores e folhas caíram
Restou só um pedacinho
De caule causticado
Bem rente ao chão,
Porém decidimos reavivar
Nossas raízes intrínsecas,
Achar boa água para regar
Novo adubo para fortificar.
Iremos entrelaçar novamente
Nossos dedos para recriar
A condição perfeita
Para o nosso amor
Pipocar de novos rebentos e botões.
Juntos, reconstruiremos o jardim,
E a coroa de estrelas brilhantes
Do nosso céu-coração.