sexta-feira, 25 de novembro de 2016

POESIA - FORMATO DA CHUVA - THIAGO LUCARINI

Há algo de alma
Entre eu e a chuva.

Talvez, sejam meus olhos molhados
Ou meu coração fofo feito nuvem

Ou a imprevisibilidade de tempestade.
Só sei que nos ligamos, como se eu fosse

O elo eterno das gotas supremas,
O terreno executor das suas vontades,

O mais autobiográfico de o seu cair.
Talvez, eu seja chuva, que não caiu

Ou chuva caída há muito tempo
Que se cristalizou na forma de homem.

POESIA - ENFORCAMENTO DAS FLORES - THIAGO LUCARINI

Olhei pela janela do meu quarto
E vi todo o meu jardim em cianose.

Apoptose das cores
Enforcaram as minhas flores.

Coroas azuladas, beijadas pela morte
Caíam dos seus tronos-caules, indo

À lama do frio chão. Uma após a outra
Morriam sem oxigênio, enforcadas pelo vento,

Invejoso do amor, que juntos cultivamos.
Colocou ele sua corda temível e invisível

Sobre os pescoços delas e cruelmente apertou.
Maldito vento sem contento próprio, roubou

Minhas flores, minha felicidade. Agora da janela
Do meu quarto, vejo um mar cinza. O vento no alto, ri.

POESIA - MAR ASFÁLTICO - THIAGO LUCARINI

Naquele mar asfáltico
Lágrimas oleosas mancham com cores
As águas duras e lisas.

As águas em peremptória negação
Regurgitam em plena inconstância
A bela espectral miríade furta-cor.

O negror do manto estático
Não suporta a mudança indesejada.
Muitos amam as cores sobre o fundo preto,

Mas o mar, com ânsia, abomina
As lágrimas que quebram sua monotonia.
Quer o mar morrer bebendo a si próprio.

POESIA - CASA DAS LÁGRIMAS - THIAGO LUCARINI

A lágrima que cai
Do olho e vai-se pelo rosto

Não percorre um caminho
Sem volta. Toda lágrima

Vai ao chão e regressa
Ao berço limiar da vista.

O bom filho a casa torna,
Portanto, toda lágrima caída

Depois de levar a mensagem,
Da qual, foi incumbida, volta

Para casa, ao olho brilhante e emocionado,
Que não ousou fazer a lágrima para despedida.

POESIA - CHUVA INFINITA - THIAGO LUCARINI

São as margens e linhas
Do papel, as férreas grades
Da prisão de toda poesia?

São os limites do papel
O precipício de suicídio
De toda poesia?

São as bordas do papel
O horizonte final
De toda poesia?

São os dedos que chovem
Sobre o papel, chuva
Passageira ou infinita?

POESIA - PORTO LIBERDADE - THIAGO LUCARINI

Deste cais de ais
Singram majestosas poesias

A colorir a baía
Das rimas especiais.

Vão longe. Canoa,
Jangada, barco à vela,

Cargueiro, transatlântico.
Muitas naufragam, outras boiam,

E as que permanecem
Eternamente sobre a água.

Seu tamanho, sensibilidade,
Permanência e resistência

Dependem sempre do porto,
Das mãos que as libertaram ao mar.

POESIA - ESPUMA - THIAGO LUCARINI

No meio
Do corpo
Do homem
Há uma duna
Silenciosa,
Volumosa,
Maleável,
Extensível.
Ora dura,
Dura mesmo
Dura tempo
A mover-se
Ao vento
Dos desejos
Para lá
Para cá
Feito serpente
Insinuante.
Ora estanca
Doendo firme.
A cura se acha
E vai à procura
A duna seca
Aos lençóis
De água pura
No meio
Do corpo
Da mulher
Feita de mar.
A duna
E a onda
Encontram-se
Fazendo
Poeticamente
Brancas
Espumas
De amor.

POESIA - AS MANGAS E AS MOSCAS - THIAGO LUCARINI

Lá pras bandas
Da roça no tempo certo
Chove manga do pé.

O chão coalha de bons frutos
Cheirosos e docinhos, passando do ponto.
O cheiro maduro chama no vento as moscas

E num instante começa a festança.
Surgem moscas para tudo que é lado
Se lambuzando no amarelo enviado do alto.

Para elas o chão pintado de alegria caída
É rio dourado de plena vida frutífera.
Regalam-se as moscas festeiras zumbindo.

Voam bêbadas de tanto açúcar
E as mangas vão chovendo, chovendo.
Glória vinda das nuvens verdes da mangueira.

POESIA - CAFÉ DE PADARIA - THIAGO LUCARINI

Todos nós
Somos aquele
Café sem açúcar
Comprado na padaria.

Cabe a quem nos compra
A responsabilidade grata ou não
De quantificar o açúcar ao gosto
Do seu paladar, adocicar o amargor.

Alguns precisam apenas de 1 sachê de 5 gramas
Outros de um pacote todo de 5 kg de açúcar fina.
No fim, o que vale é a gana e a sede daqueles
Que nos compram para sermos o cafezinho do dia a dia.

POESIA - PLENITUDE - THIAGO LUCARINI

Venha, amor!
Apague as luzes
Vamos ultrapassar

Todos os limites
Rumo às estrelas
Nesta noite de amor.

Feche a porta, deslize o zíper,
Deixe o vestido no chão,
Cole seu corpo ao meu.

Juntos nós iluminaremos
Este quarto apagado, mandando um sinal
De tão profundo amor real

Que deixaremos os anjos tímidos,
As luzes muitos mais radiantes,
E nós dois repletos um do outro.

POESIA - UM LUGAR TODO CÉU - THIAGO LUCRINI


Faça do mundo
Um lugar todo céu,

Único para felicidade,
Sem tristeza ou corações partidos.

Pegue todos os sorrisos,
Todas as flores e verdades

E monte um arco-íris pessoal,
De cores tão puras e incondicionais.

Faça do mundo
Um lugar todo céu.

Dirija o vento
Sem lamento ou lágrimas.

Mergulhe em águas profundas,
Mas nunca frias, veja os corais.

Não seja um penitente do fogo do remorso,
Seja uma estrela ascendente e eterna.

Jamais se entregue a terra para enterro,
Vença-a sendo a esperança que permanece.

Faça do mundo
Um lugar todo céu.

POESIA - SORRISO ASCENDENTE - THIAGO LUCARINI

O riso
Que explode
Em tua boca
Detona meu coração
Tão firmemente
Que até pareço sem dente
Esquecido eu, no fascínio
Do teu sorriso
De fogos de artifício
Minha perene
Estrela ascendente.

POESIA - CIDADES GRANDES - THIAGO LUCARINI

As cidades grandes
São grandes bocas.

Dentes de concreto em erupção
Despontam férreos e agudos

Mordendo, mastigando
Os homens que os ergueram.

Dissolvendo-os em sua saliva viva,
Fazendo papa das vontades duras.

O céu sem azul, sol ou estrelas
Ampara as várias línguas aslfálticas.

Permanecem, ali, em permanente
Trituração mecânica os homens

Até serem engolidos
E enterrados nas cáries.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

POESIA - ALICE - THIAGO LUCARINI

dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece
Paulo Leminski
  
Alice alucinada
Alimenta Alices
Maravilha à vaidade.

Uma dita
As outras copiam
E juntas desprezam as Barbies.

Alice das esquisitices
Imprimindo mesmices
Nas suas aliadas aliciadas.

Pobre das Alices
Ali sem opinião
Alicerçarão aliviadas

Sempre outra Alice
Para alimentá-las
Com burrices e bajulices.

POESIA - A MÚSICA DO CORAÇÃO - THIAGO LUCARINI

Sinta a energia fluindo,
A força da magnética pulsação.
Dance a música do seu coração.

Nem sempre é fácil
Acompanhar o compasso,
Resistir ao cansaço,

Porém é preciso seguir os passos,
O ritmo próprio, a sinfonia, a harmonia,
Fazer uma ópera única com os pés

Dançar ao som de quem se é.
Entregar-se aos movimentos
Mesmo que ridículos ou desajeitados,

Mas que acabam sendo muito alegres.
Pare! Escute! Sinta o nascer, da música
Que brota nas entrelinhas de cada pedaço da alma

E fluem por todo o corpo material,
Instrumento de felicidade na vida.
Bata palmas, não se reprima, ouse dançar!

Sinta a energia fluindo
A força da magnética pulsação.
Dance a música do seu coração.

POESIA - DES(BOTAR) CORES - THIAGO LUCARINI

Das cores
Perdidas

No choro
Lavadas

Em lágrimas
Caídas

Nada
Restou

Olhei para
Uma flor

Sem cor
E ela

Solidária
Comigo

Chorou
Logo

Todas
As coisas

Desfizeram-se
Das suas cores

Para
Cedê-las

Aos olhos
Do poeta

Pateta
Chorão

POESIA - 6:24 - THIAGO LUCARINI

Ousada é a morte
Ao quebrar a lei

Que ninguém pôde.
Teu ofício árduo,

Leva a pena final
Aos tenros mortais.

A única em duplo
Odioso trabalho.

Ora! Pois serve
Fielmente a morte

A Deus
E ao diabo.

Vestida de alva
Apresenta-se ao justo,

É santa e esperada.
Enegrecida e escandalizada

Apresenta-se ao pecador,
Para receber teu pago final.

POESIA - VARANDA - THIAGO LUCARINI

Há uma varanda
Diante de todos

Os olhos da alma.
Dali, todo nós

Vemos a vida
Passar, rumar

Por outros pequeninos
Caminhos e ninhos.

Algumas varandas
São mais confortáveis

Outras duras,
Baixas, altas,

Não importa.
Diante delas

Tudo passa
E seu último

A(mor)
Ocupan(te)

Fica explícito
Eternamente

Na cavidade
Dos olhos.

POESIA - INEVITABILIDADE - THIAGO LUCARINI

O tempo passa
As águas passam
Passo eu.

Caem as folhas
Despencam as flores e os frutos
Tomba o tronco velho.

Pousam as estrelas, as borboletas
Desce a chuva, a lágrima
Sucumbem os anjos e o coração.

Depostos poderes e coroas
Afogam-se reinos e reis
Quebram-se convicções.

Tudo se vai e morre
Somente e tão-somente o tempo
Permanece entre nós e depois de nós.

POESIA - O MAL DA LUZ - THIAGO LUCARINI

Não se enfureça
Nem tema o escuro residual
Pelas luzes que se apagam.

A escuridão vela os monstros,
Divisando o mundo imaginário, do palpável.
É a luz que os traz à tona.

É luz que mata o inseto,
É a luz que guia o morto.
É a luz, a luz, a luz!

Aquele que traz a luz
Foi o primeiro a cair do céu.
Começo a me perguntar

Se a luz é mesmo um berço tão esplendido,
Pois sempre, e sempre, me senti mais confortável
Naquela prístina absoluta que reinou primeiro.

POESIA - ENLACES DE CORAÇÕES - THIAGO LUCARINI

Destes absurdos de amor sou mais um,
Pertenço a estes afogados dos desejos intensos,

Profundos e suplicantes de um estado maior
De envolvimento e enlaces dos corações.

Sigo crendo numa solução de amor para todos,
Pois somente o amor, e tão-somente o amor,

Pode dar tudo sem ser mesquinho, e prosperar
Mesmo nas situações mais adversas de falta.

Se é verdadeiro e comprometido com o bem,
 Nada fará o amor dentro do peito se apagar,

E este mesmo peito ardente irá se derramar
Espalhando luz, calor e muito mais amor.

POESIA - MILAGRE - THIAGO LUCARINI

Das aceitações do incrível 
Nasce o milagre tangível.

Crer é pôr o coração à prova
Retribuir com alma o esforço.

Exaltar a possibilidade do impossível
Dobrando os joelhos e o ceticismo.

Após abertos os caminhos e vencidas
As barreiras, os muros e as leis dos homens,

A terra do corpo se acha pronta para receber
E germinar a semente da finda espera esperançosa.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

POESIA - O CANTO DO OVO - THIAGO LUCARINI

Nos caminhos da escuridão
Sigo o canto harmonioso do ovo
Esperançoso de o nascer deste sol

Choco dentro do peito
Verdades esperadas, ações em prol
De um ato único e virtuoso de amor.

Quero secar as águas que regam as flores,
Quero secar as águas que regam as flores.
Tornar a paisagem um tanto mais crua.

Sigo o canto da sereia vindo do ovo,
Sigo pela escuridão naufragante das expectativas.
Quebrem o ovo! Quebrem o ovo!

POESIA - VARAL DE EXPOSIÇÕES - THIAGO LUCARINI

Lavei todos os meus sentimentos
E os pus no varal de frente à rua.

Estou completamente nu e indefeso
Mesmo estando totalmente vestido.

Alguns deles estão amarelados pelo tempo,
Outros com remendos indiscretos ou rasgos abertos,

Há aqueles alvos, nobres e impactantes,
E sentimentos que por mais que se lave,

Continuam sujos, feios e tão-somente negros.
Todos que passam por ali podem me ver nu no varal.

Aguardo rápida secagem para guardar tudo de novo,
Nenhuma peça pode ficar de fora ou alguma parte de mim

Ficará descoberta, e eu, sem um pedaço mínimo
De sustentação, mesmo que falho, desmoronarei.

POESIA - ÚTERO INTERATIVO - THIAGO LUCARINI

A Lara Brenner

Em Tecnolândia uma nova desordem
Coadunou-se à realidade cotidiana dos nativos digitais.

Todo novo feto recusava-se a fixar
À parede do útero, se este, não fosse interativo.

Os insurretos bebês estavam cansados
Daquelas prístinas casinhas desinteressantes,

De pouco diálogo e experiência,
Crescer isolados, pura e simplesmente

Não era mais algo viável a bebês tão espetos.
Rapidamente, foram os homens e mulheres

Conectarem todos os úteros ultrapassados
Com aparatos de tela LCD e rede Wi-fi.

Pronto! Os bebês contentes voltaram a crescer e nascer
Agora mais tecnológicos do que jamais tinham sido antes.

Os bebês livram-se do tédio da espera,
Pois o útero interino interativo mudou tudo.

Rola a boca miúda, que tempos depois, estes bebês
Tão entretidos, agora se esqueciam da hora de nascer.

Claro, que este outro problema de Tecnolândia
Fica para uma próxima conectiva e viral poesia.    

05/11/2016.