A Beleza sentou-se numa mesa de bar e
pediu uma cerveja. A surpresa do garçom foi descobrir que a tal Beleza era
feia. Uma mulher raquítica, coro e osso, uma tábua lisa, pele enrugada igual
maracujá de gaveta, cabelos palha de aço desgrenhados, caolha e cega de um
olho, desvio de septo, boca murcha, banguela e os poucos dentes restantes
amarelos de tártaro, corcunda ela andava encurvada pelo tempo, suas roupas não
passavam de trapos.
Sobressaltado de espanto o garçom
perguntou:
— Como podes tu ser a beleza? Esperava que
fosse uma mulher graciosa, uma beldade repleta de charme, encantos e gracejos.
Que decepção, filhote de cruz-credo.
A mulher deu um gole em sua cerveja e
respondeu:
— Meu caro, não tenho culpa se és um
tolo. Confecciono e teço o que é belo, esperando que aquilo seja uma
característica minha; anseio a delicadeza das rosas, a pele rosada de um bebê,
os olhos azuis, o viço de uma alma. Somente o grotesco busca perfeição. Se eu
fosse bonita seria arrogante, traiçoeira, me perderia no reflexo do espelho,
afinal não existiria ninguém mais estupenda do que eu. Daí não me preocuparia
com os pequenos deles que tornam a vida tão graciosa. Se eu fosse bela o mundo
seria feio, isto é um fato! Pois só construo e delineio o que é contraponto meu.
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