Poesia, a meu ver, é
um processo interno, é preencher lacunas do ser ou apenas dar vazão a elas.
Ninguém deve estar cheio de vazios. Não posso encarar os poemas deste livro de
forma técnica, pois não tenho capacitação para isso, mas, posso esmiuçar sobre
o que as palavras de Calikcia Vaz me trouxeram. Falarei das poesias num todo
como uma Voz, uma personagem a ser interpretada.
Sobre o livro físico,
a capa é mais que ilustrativa e bela. A qualidade da impressão do Clube dos Autores
me impressionou. O livro é muito bem editado. Há pequenas ilustrações que compõem
um arranjo perfeito. É nítido o cuidado da autora com sua obra, e isso, é
sempre admirável.
A antologia, Entre o Poema
e a Poesia Existe um Ponto de Solidão, é composta por quatro atos: Meus
primeiros versos, Amanhecer, Entardecer e Ao cair da noite, que traz em seu
cerne uma homogeneidade e linearidade muito bem-vindas.
Que fique claro; este
não é um livro de poesias felizes, não há um grande ápice de felicidade ou de
redenção do eu-lírico, pelo contrário, é uma Voz que se afunda em seus
pensamentos, no seu distanciamento do mundo e dos outros. Algo que eu particularmente
gosto muito e me trouxe à mente enquanto lia as poesias pessimistas e de
somenos de Cruz e Souza ou mesmo de Augusto dos Anjos.
Pode-se reconhecer na
Voz as agruras de uma vida, a perturbação da desilusão do amor e do abandono
misturados a um excesso de carência e necessidade de aceitação. Quem nunca? Os
versos de Calikcia são carregados de penúria e lamento, da busca daquilo que
poderia ter sido, claramente, aprisionados em ecos de um passado idealizado que
prometeu felicidade e não entregou. A Voz desestabilizada acostumou-se com a
tristeza dos dias e mente ao dizer o contrário, o que a impede, de seguir, de
fato, adiante. A Voz habita na falta. É um eu-lírico que vacila em busca de
completude e autorrealização no outro, nunca em si, claros nos poemas: Apenas um alguém e Nada encontrei.
Entre o Poema e a Poesia
Existe um Ponto de Solidão de CalikciaVaz não é uma coletânea poética para quem
busca emoções de felicidade instantânea, ao invés disso, é uma descida visceral
ao fundo do poço, é encarar de frente a desilusão e o abandono, a morte física ou
idealizada de um pseudo-amor que mais tirou do que deu.
É a amostra pura e
desnuda de uma alma que visivelmente busca correspondência de vida, cura e
redenção, mais que amor. E, uma obra assim, verdadeira, fala mais de nós, do
que gostaríamos de reconhecer.
Thiago Lucarini