terça-feira, 20 de outubro de 2020

MINICONTO: BOCYDIUM GLOBULARE - THIAGO LUCARINI

Era tarde. Diogo, como doutorando em entomologia, ficou para terminar de catalogar os insetos que chegaram. Sonolento, manuseava um Bocydium Globulare, um inseto brasileiro esquisito, parente da cigarra, que estava mais para um pesadelo ambulante. Diogo pregado do dia exaustivo acabou dormindo sobre a bancada, e sem perceber, espetou-se nos processos espinhosos do Bocydium. Antes de amanhecer, o biólogo acordou com uma tremenda dor de cabeça, levantou-se e bateu as costas no armário, o que era impossível. À meia-luz do ambiente, viu sua imagem refletida nos imensos painéis de vidro das coleções, não pôde gritar. Seus olhos tinham uma coloração amarelada com pupilas horizontais como os das cabras. Sobre sua cabeça havia uma crista bifurcada espinhosa com bolas peludas, na parte de trás dela, uma espécie de ferrão espiculado descia até pouco abaixo dos seus joelhos. Do seu dorso pendiam asas translúcidas e pares extras de patas saíam de debaixo dos braços. Sua boca era agora um longo probóscide. Diogo era uma aberração repugnante. Se pudesse, teria chorado feito um humano.

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