sexta-feira, 23 de outubro de 2020

POESIA - À MESA - THIAGO LUCARINI

A partir dos deslizes ingratos da tristeza

Enfeites translúcidos pingam sobre a mesa.

 

Rolam mundos e incertezas, mudos,

Escavados de um interno tempo nublado.

 

Dos méritos vencidos

Ao elo de afeto rompido

 

A borda da mesa é precipício.

Os olhos naufragam no rosto

 

À medida que a dor se agrava.

Dedos tontos brincam de Caronte, e conduzem

 

Os talheres a uma felicidade jamais alcançada.

São pedaços de metais limpos, sem norte e com fome,

 

São gôndolas vazias numa Veneza seca,

Pois não há qualquer intenção de se pôr a mesa.

 

Nos pratos nus das mãos côncavas em junção

Só há o choro desgostoso para maldita refeição.

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