quarta-feira, 14 de outubro de 2020

MINICONTO: PARANOIA - THIAGO LUCARINI


 

Júlia encarou-se no espelho, apalpando a barriga como tantas outras vezes.

— Amor, não há nada dentro de você.

Independente do que Agenor dissesse ou os médicos e seus exames falhos, Júlia sabia que tinha algo dentro dela, crescendo, expandindo-se. Não era um bebê. Era algo mais, inexplicável, fora da realidade.

Tateou sua carne morna um pouco mais.

Agenor a observava, descrente.

— Eu não estou louca — retrucou.

Já à mesa, Júlia tomava seu café em silêncio, Agenor mexia no celular. De repente, ela sentiu aquela coisa andar por baixo da sua pele. Sem pensar, pegou uma faca de serra que havia deixado próxima.

— Te peguei, desgraçado. — Berrou Júlia, enfiando a faca na própria barriga.

Agenor correu para socorrê-la e em meio ao sangue, ele viu parte de algo não humano que Júlia acertou.

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