quarta-feira, 5 de abril de 2017

POESIA - NÊNIA - THIAGO LUCARINI



 O nariz e a boca
Formam campanários

Entupidos de algodão.
O enchimento macio e fino

Silencia os sinos invisíveis
E amortece as lágrimas.

O morto é catedral!
Se prestar bem atenção

Pode-se ouvir o coro de vermes
Começar a entoar cânticos:

— Liturgia da fome vencida —
— O choro da vida falida —

E o couro a ranger e estalar
Ante o pétreo rigor mortis.

Cada morto produz
Sua própria nênia,

Uma sinfonia dispensável
A qualquer ouvido vivo.

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