segunda-feira, 24 de abril de 2017

POESIA - SUNSET DE AURÉOLAS SANGRADAS - THIAGO LUCARINI



Fogo incendeia o céu
No pôr do sol dos aflitos.
Auréolas feridas sangram

Tingindo os anjos e suas asas mecânicas
De vermelho extraordinário e vulgar.
Poeira nas nuvens é chuva líquida,

Cristalina, nociva, que flui de um tempo
Antagônico e patogênico. As auréolas
Choram suas lágrimas rubras, halo de pavor.

Somente o amor poderá nos salvar
Do tormento dos dolentes anjos feridos
Despidos de suas vestes de santidade.

POESIA - VENCIDOS PELO TEMPO - THIAGO LUCARINI



Como duas flores
Vencidas pelo tempo

Fomos nos desfazendo
Pétala a pétala, dor por dor,

Sem fruto algum para perpetuar
Aquilo que foi o nosso vernal amor.

Fomos amantes tolos e murchos,
Desajeitados sem bom adubo.

Usamos da beleza e só,
Quando o solo secou

Não havia raízes profundas
Para nos segurar ou sustentar.

Daí nós ficamos feios,
Cheios de asco e pavor

Sem perfume ou atrativo
Desmoronamos. Solitários

Cada qual seguiu
Seu próprio caminho de pedras.

POESIA - UM CORPO QUE CAI - THIAGO LUCARINI




Um corpo que cai
Uma cova que se abre
Uma lápide que se levanta.

Um corpo que cai
Uma lágrima que desce
Uma alma que debanda.

Um corpo que cai
Ou céu que se apresenta
Ou inferno que se alimenta.

Um corpo que cai
Uma dor de eterna visita
Um punhado de terra que se deposita.

POESIA - TANTO A DIZER - THIAGO LUCARINI




Tanto a dizer
Pouco a entender.

Uma pétala apenas
Não representa toda a rosa,

Mas certamente representa
Toda a sua perda a seguir.

A dor é sempre um enigma,
Um estigma subjetivo da realidade,

Subversiva de toda vaidade
Não há aplicação moral a dor.

Um grão de areia na praia
Não é nada, um grão de areia

Dentro do olho é muito.
Um amor, por vezes, é suficiente

Nenhum amor é dor demais.
Ninguém deve viver tão longe assim.

Enfim, tanto a dizer
Pouco a entender.

POESIA - ALIANÇA VELHA - THIAGO LUCARINI



Ela olhou para a Terra
E viu tanta tristeza ali.

Sentiu-se infinitamente triste,
Assim como todo o espaço a sua volta.

A Terra feito ela, não tinha luz própria,
Precisava de outro algo brilhante para se iluminar.

Pensou tantas coisas vãs, quis chorar, mas se deu conta
De que não tinha lágrimas, quis tapar os olhos e não achou as mãos,

Quis correr, mas não tinha pernas, quis escurecer,
Mas lembrou que a luz que a banhava não era sua.

Pálida e triste, retirou-se, minguou a Lua
E ficou olhando da escuridão seu rosto no mar,

Nas águas da Terra, uma aliança velha,
Do início das eras, sonhando felicidade para ambas.