sexta-feira, 18 de agosto de 2017

CRÔNICA - PORTA-RETRATO - THIAGO LUCARINI

A foto no porta-retrato exposta a vista é uma verdade fossilizada pela pressão de camadas de antiga alegria, não que hoje ela seja uma completa mentira, porém, certamente, não é mais autêntica ao tempo presente, pois se trata de um pedaço inexpressivo do passado estagnado, e este é muitas vezes confuso e inexato devido à subjetividade do eu corrente em transição. A foto estática além da moldura também está presa as grades das horas em que foi tirada e há tanto idas, luta a imagem sob a redoma do agora para se dar ilusória continuidade, livrar-se do cristal remanescente que é, e nesta movimentação imperceptível vai encruando, desbotando, amarelando, perdendo o viço da verdade que jurou manter, do interno desejo de seguir inalterada a um futuro que não pertence. A foto é fóssil para posteridade, uma relíquia, quimera fria que jamais dialogará com a realidade quente a frente de si.

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