Estive longe do amor por tempo demais, e neste desamor insensível me congelei, a solidão do sentir me é completa. O toque não me arrepia, as palavras não me emocionam, os atos não me importam, a desgraça não me comove, a comédia não me causa riso. Vazio. Frio. Paz. É tão estranho olhar para aqueles que eu devia supostamente amar e não achar reflexo. Tenho um baço véu de carne leitosa sobre os olhos. Cinza. Careço de plena significação. Ignoro velhas convenções de prisão emocional. Sangue, amizade, fé não me são laço. Sem amarras. Liso. Este é meu perene estar fora do Éden, longe dos olhos de Deus, do seu manto de pureza e ordem maior. Sou anjo de máxima queda. Extirpadas asas. Não pense que dentro reside um grande mal nem mesmo isso tenho em mim. Não carrego coisa alguma. Vácuo. Não vejo sentido, propósito para muito. Dia por dia me justifica. Não é razão para este neutro algo estúpido que me fiz, mas em primaveras passadas mendiguei amor demais, implorei às pessoas erradas que me amassem, colhi migalhas, engoli esmolas vestidas de falsa sinceridade, e isso foi descolorindo, envenenando meu coração, e de fato, morri sem cair. Roubaram minha glória. Depositei meu coração em pedestais trincados. Consequência em longo prazo: desamei geral. Enraizei nova crença infecunda. Apenas a lógica fria me segue, não tenho complemento além dos vícios impuros de mim, meu eu secou da forma mais brutal possível. Hoje só a dor estéril me é absoluta, meu sentir mais sincero, etéreo, pois é mais da metade pulsante de mim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário