quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

POESIA - SUSPENSÃO BASAL - THIAGO LUCARINI

Olhe para o céu
E diga-me onde estão
Teus passos rumos às estrelas?
Que pedaço de Paraíso
Reflete a Lua do teu Éden esquecido? 
Que baça nuvem ofuscou
O sorriso do teu Sol?
Que promessa de amor espera
Teu coração vencido?
Uma vez coagulado os sonhos
Vive-se apenas pelo basal,
É suspensão.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

POESIA - AQUILO QUE NÃO FOI DITO - THIAGO LUCARINI

Hoje eu posso dizer:
“Queria que tudo tivesse
Terminado melhor entre nós.
Que restasse algum brilho
Resquício de amizade
Só sobrou o poder do vazio. 
De poemas velhos e esquecidos
Desmancho-me, me componho.
A tinta é o tecido da minha palavra,
A intenção, seu sangue, e o adeus,
Paredes de um coração desistente.” 

domingo, 2 de dezembro de 2018

POESIA - FULMINANTE - THIAGO LUCARINI

não é surpresa!
há sinais em alguma parte.
um sorriso nublado
certos tempos fechados
abraços frios e apáticos
palavras não mais proferidas
noite sem promessa de amanhã.
antes de qualquer término fulminante
existe algo que morre um pouco a cada dia.

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

POESIA - NOVA ASSINATURA - THIAGO LUCARINI

Esquecer é tornar desconhecido
Aquilo que um dia foi brilho.
É dar ferrugem, mau funcionamento 
Apagar o canto e deixar 
Silêncio.
É fazer do fogo, cinzas
De toda construção, ruínas.
É ver dissipar toda chuva prematura
E ser tempo limpo, nova assinatura. 

sábado, 24 de novembro de 2018

POESIA - OLHAR É PINTURA - THIAGO LUCARINI

Gostaria de dizer "eu te amo"
mais facilmente, sem repreensão,
mas declarar me é algo difícil,
prefiro agir no silêncio e solicitude.
queria ser mais livre mais leve
ter nestas gasosas palavras, o Céu,
porém minha língua é âncora, corrente,
restos de naufrágios, ilha formada.
Todavia se prestar bem atenção
verá que meu olhar é pintura.

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

POESIA - AURORA DE DIZERES - THIAGO LUCARINI

Quando do nascer das palavras
Vingar às emoções do mundo 
Será em mim aurora de dizeres 
Significados vastos a irem 
Anunciar em espelhos esfumaçados
Verbo feito, moldado além  
Das minhas grades de linhas.

POESIA - NEWTON - THIAGO LUCARINI

Relativo ao meu sofrer
Orbitar é cair nunca seguir
Maior gravidade é não ter.
Proporcional ao tamanho dos corações que amam
(o meu inchado de ausência sem centro)
E inversamente ao quadrado da distância entre nós
(pois quem ama distorce o outro pra melhor)
Orbito no campo da vasta ilusão
Caindo sempre rumo a sua direção
(encontrando maior força de repulsão)
Meu amor é física experimental sem luz
(a consciência de um pecado sem liberdade só solidão)
Guiado por tempos viciosos em espaços restritos
Gerado por infinitos erros de uma vida sem ciência.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

POESIA - DUNA - THIAGO LUCARINI

O esquecimento
Pertence ao tempo.
É areia a ser revolvida,
Mexida, mudada de posição
Até deixar de se duna altíssima 
Para ser poeira retilínea ao chão.
É perder a coroa de brilho dos olhos
Pelas mãos pacientes da eternidade
E desaparecer debaixo da sombra dos pés.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

POESIA - AMOR MORTO - THIAGO LUCARINI

e de repente 
a face amada
é faca cravada
no meio do coração.
amarga visão
de um outro
deposto, amor morto,
em decomposição.

POESIA - SUSSURROS DAS ESTRELAS - THIAGO LUCARINI

ouço meu nome vindo das estrelas
como sussurros feitos de velhos brilhos,
glórias a muito passadas pelo vale da escuridão.
vaga minha inocência na noite
barca à deriva em águas turbulentas
sou um tolo inexperiente na pressão 
alegórica do manto que se expande.
sussurram sem boca as estrelas alimentando 
minha loucura de brilho e mistério só coração
sem jurarem sobre qualquer amanhece.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

POESIA - INVERSA PARUSIA - THIAGO LUCARINI

preparem-se é chegada a inversa parusia.
anjos serão imolados em altares de ignorância 
para o inferno ser expurgado do chumbo em si.
incapaz será o sangue derramado dos inocentes 
de apagar as chamas dos pilares e entranhas.
esperam estabelecer novo céu,
trata-se agora do eivar vil da alma
todo o ouro levado deixou de há muito importar.
não cabe ao carrasco ofertar, de fato, paz,
mas tão somente ser arauto de morte,
sem amor acima de tudo, jamais.

POEMA - ESPAÇOS SÓLIDOS - THIAGO LUCARINI

As horas abandonados pelo relógio 
Seguem voo próprio. Os ponteiros
São grades de uma velha e inútil prisão.
O tempo não pode ser confinado
A sólidos espaços, pois é mais útil 
A líquidos humanos que se esvaem 
Rapidamente, onde sua eternidade 
Não dura mais que um curto sopro mitológico.   

sábado, 20 de outubro de 2018

POESIA - SEMENTES E PEDRAS - THIAGO LUCARINI

quando as sementes que deixei 
pelo caminho cair, florescerem
anunciando que estive aqui
para ser disperso jardim,
o que dirão tuas ressentidas pedras
além de dores e tropeços?

POESIA - MÃO INVISÍVEL - THIAGO LUCARINI

a mão invisível que empurra a porta
fazendo ranger suas engrenagens de fechadura
é a mesma que empurra minha alma
para detrás da sombra do meu coração.
a mão insubstancial tem dedos de chuva
e cheiro familiar de desidiosa solidão.
rangem meus ossos, fechos os olhos,
a porta com estrondo igualmente se encerra.
é tempestade lá fora, e eu nuvem aqui dentro.

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

POESIA - OVO CHOCO - THIAGO LUCARINI

Acho que sempre fui morto
Sem anúncio oficial de morte
Completo ovo choco despercebido
Incrustado ao vulgar respirar diário.
Sou do tempo pertencente aos inermes
É a minha casca interna que está fendida
Dando nata, véu embaçado ao olhar
Me é comum a cova dos desterros. 
Será que quando, enfim, eu morrer
Estarei eu vivo pela primeira vez?  
Será que vestirei a humanidade 
Disfarçada por auréolas e asas? 

terça-feira, 16 de outubro de 2018

POESIA - NOITE NAS VEIAS - THIAGO LUCARINI

Sobre as desventuras do coração
Sempre haverá algo não dito,
Fogo ferido pelo ferro da indiferença,
Presença ida e presente ausência.
Restos de felicidades cristalizadas
São insaciáveis sobremesas amargas.
No vasto solitário do meu coração
Quando o pulsar calar nas tardes
E a noite for perpétua nas veias
Estará o amor em mim
Sepultado ao amanhecer
Sob olhos já secos e sem flores.

domingo, 14 de outubro de 2018

POESIA - VELA NO ESCURO - THIAGO LUCARINI

A luz sempre nega ao breu.
Das horas frias que me ignoram
Um dia renunciarei ao luto.
Orações de cera derretida
Uma vela no escuro
Atrás do centro esterno do quarto
É a minha esperança
Chorando lágrimas de parafina.
O espaço de duração é mínimo,
Máximo de setes dias calmos.  
Sei que a escuridão é o destino
E dos restos sólidos da chama darei ossos
A fantasmas infindáveis e a tempestades.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

POEMA - DO LADO DE CÁ - THIAGO LUCARINI

do lado de cá
a grama é mais triste,
porém um tanto mais poética.
não pinto minhas cercas
com imaginário idealizado,
minhas defesas são cruas
e minhas flores sempre nuas,
elas não fingem calor na frio
ou frescor no alto verão.
meu jardim é feito,
bem ou mal,
do mais puro de mim.

POEMA - QUANDO SOLIDÃO É A ESTAÇÃO - THIAGO LUCARINI

mudo antes de o fim da estação
cabe a mim encerrar-me primeiro,
prometer enterro e estado findo.
é o medo do abandono no tempo,
do desespero frente a novos climas.
fugitivo e preventivo, me adapto
buscando alívio das intempéries
do clima imprevisível da vida aberta.
quando solidão é a estação
todo tempo está perdido e ganho.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

POESIA - SÓ POR ESSA NOITE - THIAGO LUCARINI

Permita-me 
Ser um homem perfeito
Livre de todas as desilusões do dia a dia.
Uma vez na vida deixe-me ser
Algo além do normal, especial.
Que seus braços sejam proteção,
O calor de expectativas inquebráveis.
Só por essa noite, peço:
Construa em mim, sorrisos.
Sei que não curará minha solidão, 
Pois, já não habito a palavra.
Sou verbo desfeito da carne,
Essência regressa ao caos primal.
Portanto, preciso da misericórdia 
De quem me ofereça ilusão
Só por essa noite.

domingo, 23 de setembro de 2018

POESIA - TRÊS TEMPOS - THIAGO LUCARINI

já precisei mais muito mais 
hoje pouco, menos e menos
quero só o teu nada.

eu preciso mais de você.
mais distância maior ausência
mais "nunca ter existido."

precisarei achar mais de mim
amar a carne da qual sou feito,
e assim, jamais precisar mais.

sábado, 8 de setembro de 2018

POESIA - ÁRVORE - THIAGO LUCARINI

Sou árvore.
Raízes fixam meus pés
No solo que habito.
Não sou de transitoriedade,
Mas de fidelidade ao chão bendito.
Sou aquele sem ida, partida,
Pois meu querer maior é permanecer.
Meus passos não nascidos terminarão
Exatamente onde começaram: marco zero. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

POESIA - HISTÓRIA DOS OLHOS - THIAGO LUCARINI

Que histórias contam meus olhos
Se não as de seus amores e enterros?
Quantas linhas possuem minhas retinas?
Quantas palavras invisíveis guardam de mim,
Mas que são vistas por quem ousa me ler?
Quantas estrelas viram nascer?
Quantos horizontes abortaram?
Quantas janelas fecharam?
Quando sua história findar
Guardarão os ossos a escrita,
Alguma página dessa vida?

POESIA - ECO - THIAGO LUCARINI

Já não encontro eco na sua imagem 
Não há profundidade para reflexão, 
Fonte ou sentimento para reverberar. 
Encaro o vazio sem propagação
Ou qualquer onda de reciprocidade.
Hoje meu coração está surdo
Não escuto mais em mim 
Qualquer som por você.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

POESIA - CREPUSCULAR - THIAGO LUCARINI

Rende-me o cansaço tardio
Sou fim de tarde monocórdio 
Promessa de tempestade, 
Morosidade e previsão.
Destoo de outros encerramentos,
Pois estou em constante ir
Sem derradeiro fim.
Não diário não noturno
Sou crepuscular, suspenso
Sem pertencer a um ou outro.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

POEMA - AMIZADE É LUZ - THIAGO LUCARINI

Estou fortalecendo laços
Suspendendo a minha descrença
Sobre a finitude dos dias.
Além da relativa crueza do tempo
Escolho crer na magia do sonhar
Quero eternidade para amizades
Um Sol de brilho próprio
Um sistema interdependente
Onde orbitam sonhos estelares
Onde cada errante convirja
Para um caminho universal 
De unidade celestial indivisível
Onde seremos o brilho mútuo
Para os dias escuros do outro. 
Onde a gravidade exerça 
Apenas a força: amar.

sábado, 18 de agosto de 2018

POEMA - NUVEM - THIAGO LUCARINI

Sinto-me leve
Feito as nuvens.
Matei minhas expectativas
Ao dar-lhes a queda da chuva.
Meu tempo em formação
Está limpo, mas transitando
Em alguns instantes de sombra.
Meu céu nem sempre está claro
Obra natural de sua mutabilidade.
Sou nuvem, por certo voltarei
A chover, não mais água de despejo,
Desespero, mas água esperada da estação
Cumprindo seu ciclo de humanidade.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

POEMA - FÊNIX - THIAGO LUCARINI

Meu sentimento é cinzas
Já não te amo mais.
É doloroso, porém libertador
Refazer-se do pó indesejado
E estar pronto para outro início.
Já não sou o mesmo, refeito,
Pela primeira vez sou fênix,
Pássaro aberto a novo voo.

POEMA - CIRCO - THIAGO LUCARINI

No picadeiro
O palhaço e o leão.
Depostas coroas
De domínio e fragilidade
Um deixou de ser rei
E o outro de ser homem
Para serem o sismo do riso,
Vertical atração.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

POEMA - DESCONHECIDO - THIAGO LUCARINI

Anseio voltar
A um lugar que desconheço,
Porém primitivo a minha alma.
Um lugar de calmaria
De solitude consciente 
E companhia amante.
Anseio algo não tido
Não vivido não dito.
Um espaço sem encerramentos
Que possa ser chamado de lar.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

POESIA - SOL FERIDO - THIAGO LUCARINI

As horas 
Congeladas no relógio 
Me dizem que você 
Não habita mais aqui.
Sou Sol ferido
Encarando um ciclo findo
Tentando alcançar 
A neutralidade do olhar
Nestas horas agulhas feitas de gelo.

terça-feira, 7 de agosto de 2018

POESIA - OCEANO - THIAGO LUCARINI

Infinitos são os oceanos 
Que o coração abriga,
São profundezas e imensidões
Pouco exploradas ou exatas,
São águas que salvam 
Ou afogam seus necessitados.
Qualquer suspiro, romper do limiar
Ou frágeis bolhas esparsas
Podem ser a construção 
De mundos inteiros.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

POESIA - PEIXE VOYEUR - THIAGO LUCARINI

Sinto-me sozinho
De uma maneira estranha,
Porém totalmente familiar.
Estar restrito a redoma 
Me é essencialmente habitual.
Sou peixe no aquário para apreciação
Jamais para toque ou estar junto.
Ser solitário é exibicionismo
De alguma forma. O misterioso é meu lar
E tenho algo de frio devido minhas águas
Por mais que haja bom Sol e promessas.

domingo, 29 de julho de 2018

POESIA - MATAR A FLOR OU AMADURECER O FRUTO - THIAGO LUCARINI

Cabe ao tempo 
Redimensionar as coisas
Dar novas perspectivas
Aparar arestas dolorosas 
Diminuir ou diluir emoções
Aumentar mínimos despercebidos 
Equilibrar ou apagar eventos
Matar a flor ou amadurecer o fruto.
Cabe ao tempo 
Dar proporções reais
Ao coração dos homens. 

segunda-feira, 23 de julho de 2018

POESIA - TRANSIÇÃO DE ESTAÇÕES - THIAGO LUCARINI

O frio me deu 
Uma coroa de gelo
Que não pude negar 
Por uma longa estação.
Até que meu pálido coração
Começou a bater feito um tambor
Aquecendo rápido todo meu eu.
Logo a coroa derreteu e fez-se chuva,
Pois chegou sobre mim, primavera
Tempo de, enfim, florir, sorrir.

domingo, 1 de julho de 2018

POESIA - ESPÍRITO SEM EXORCISMO - THIAGO LUCARINI

Feito a presença de um fantasma
O teu perfume apareceu no ar
Misterioso, não físico, perigoso
Como toda lembrança que arde
No meio da noite, mas que não ilumina.
Teu perfume veio-me além da distância
Atravessou nortes e mortes não ditas.
Será uma parte tua que ainda me quer
Ou algum espírito sem exorcismo
Que invoquei só pra não te esquecer?

sexta-feira, 29 de junho de 2018

POESIA - LUGAR DE FALA - THIAGO LUCARINI

Já não creio
Naquilo que falo
Em poesia a ser defendida.
Meu lugar de fala
É na mudez
No silêncio da alma
Não há nada mais a ser escrito
A ser dito para ser ouvido,
Pois não acredito
Na definição de nenhum sentido
Nenhuma linha do discurso me válida
Minha palavra é seca e vazia
Desprovida de intenção, de solução
Sem dó as enterrei sem marcação
Só terra limpa sem epitáfio.

terça-feira, 26 de junho de 2018

POESIA - ENFEITES E ILUSÕES - THIAGO LUCARINI

Fui me limpando das ilusões
Jaula diáfana e dourada do eu
Adquirindo um olhar mais cru
Mais preciso para ver além
Das promessas e enfeites
Dispostos para estagnar
Os passos facilmente iludíveis.
Com a vista mais limpa
O caminho não fica mais fácil
Porém a qualidade do andar melhora
Uma vez que cacos tornam-se atos.

sábado, 23 de junho de 2018

POESIA - PELÉ-INDUMENTÁRIA - THIAGO LUCARINI

Pele exposta, marcada.
Comichão de sarna
Abre-se em feridas.
A pele desfaz-se
Feito papel molhado
Sem simbólica poesia.
Não há costura nem sal
Que a remende ou cure,
Deixe-a sã, santa ou bonita,
Pois esta odiosa pele superficial
Não pertence a este corpo
Muito menos a esta vida intrínseca.
Na forja do nascimento vestiram
No boneco de argila animada
A pele-indumentária errada, apertada
E que, hoje, estrangula e trinca
A nobre cerâmica moldada,
Deformando a essência primária.

segunda-feira, 18 de junho de 2018

POESIA - AFOGO A FOGO - THIAGO LUCARINI

Como respirar
Fora d’água
Se estou acostumado
Ao oxigênio líquido.
O ar rarefeito além do limiar
É seco e desesperador.
Oculto na fluidez, mergulho,
Sou peixe de emoções.
É certo: afogo a fogo,
Só venço quando líquido
E meu degrau da vitória
É um patamar abaixo.

sábado, 16 de junho de 2018

POESIA - ESTRELAS E RUÍNAS - THIAGO LUCARINI

Algumas fundações são base para estrelas
Outras são apenas velhas ruínas em fim.

Qual solo alimenta tuas raízes de jardim?
Em qual chão fundou teus fulcrais alicerces?

Quando a tempestade vier sobre teus sonhos
Será capaz de manter-se valentemente de pé?

E na noite mais escura brilhará feito estrela
Ou será agourenta construção abandonada?

domingo, 10 de junho de 2018

POESIA - DE MIM - THIAGO LUCARINI

Pegue tudo de você 
Que resta em mim 
Espalhe ao vento
E talvez assim
Eu sinta menos 
Sua ausência, negligência.
Dilua-se do meu toque,
Das minhas memórias e afins,
Daí-me merecido descanso e fim.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

POESIA - CORPOS QUE SANGRAM - THIAGO LUCARINI

Alguns corpos sangram
Países desconhecidos
Terras não pertencidas
Oceanos não navegados
Decadências sem quedas
Estrelas não vistas na noite
Tempo ainda não passado
Amores não correspondidos.
São corpos estranhos estes
Sangram coisas que nunca tiveram,
Mas não se vão à morte,
Pois não vertem alma de verdade
São ilusórios platônicos alucinados
O que não significa ausência de dor.

domingo, 3 de junho de 2018

TAUTOGRAMA - A - THIAGO LUCARINI

Assim assado, assisto acomodado
Assimétricos armados associando
Almas alienadas. Analiso arredio:
Acerto? Aspiração? Absurdo?
Aquém almejo algo além
Amor, amizade, ancoragem, abraços.
Atenção: assimilações arbitrárias
Arruínam auspiciosos amanheceres.   

sábado, 2 de junho de 2018

POESIA - FORA DO ÉDEN - THIAGO LUCARINI

Fui posto fora do Éden
Quando me deixaste.
Tive minha peremptória queda,
Tive a dissociação e dissolução
Desta alma una de amor
E da forma sólida deste coração.

Perdi meu Deus soberano
E percebi que um deus fabricado
Não opera milagres
Apenas produz as vontades
Daquele que o criou
Em sua crença infantil
Sem qualquer simetria.
Este não passando nunca
De um ridículo fósforo-sol,
Farol de míseros segundos
Que não salva do precipício.

Perdi-me de Deus. Vaguei
No sal das lágrimas de prata fria,
Pois demônios-cupins de falsa vulgata
Comeram as raízes de vidro da minha
Árvore da Ciência do Bem e do Mal
Não tive sua sombra nem seu alívio
Nem seu fruto de doce pecado, guardado
Latejante e febril pouco abaixo do umbigo.
Restou-me somente a incitante
Serpente ao meu lado vago
E a sabedoria dos passos solitários.

Ao estar com esta alma longe, tão longe
Da unidade deste ser Todo-Poderoso Amor
Pereço. Padeço. Ando em busca de uma
Nova crença, tentando achar uma ideologia
Própria, mais poderosa e justa, que não fabrique
Cacos, tristes corações quebrados e espalhados.
Talvez assim, abrace-me a onisciente, Verdade.

Agora que me fecharam as portas do Éden
Em último fiasco de vã tentativa eu rolarei
Na lama santa da Parusia onírica da apoteose
Apocalíptica da solidão eterna que se abre
Num ato tão somente dramático e sem anunciação.
Erguem-se as fundações, as barras de ferro desta prisão,
Desta gaiola aberta, porém sem fuga, inferno da carne.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

POESIA - INCOMPETÊNCIA HUMANA - THIAGO LUCARINI

Detesto cair.
Não pelos joelhos ralados
Não pelas mãos feridas
Ou pela dor em eco depois.
Mas pela falha no andar
Pela incapacidade própria
De manter-me absoluto de pé,
Pela inconstância do ritmo.
Cair é sempre resultado de alguma
Distração traiçoeira imposta pelo caminho
E a queda autentica minha incompetência
Mundana em ser mais que humano.