sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

POESIA - A ROUPA DO MORTO - THIAGO LUCARINI

A roupa posta
No dispensável morto
Não o esquenta.

Também não precisa
O morto de gentil calor
Ou de roupas ou de flor.

Tudo é enfeite posto
No morto, disfarces da morte,
Do frio, das lágrimas, do verme.

Pasmem! A roupa não esquenta
O morto nem o caixão nem o coração.
Sereno permanece o morto nu da vida.

Desvelem os segredos e acessórios,
Anjos ou demônios nada vestem.
Por que o morto deveria tapar o seu milagre?

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