sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

POESIA - A ROUPA DO MORTO - THIAGO LUCARINI

A roupa posta
No dispensável morto
Não o esquenta.

Também não precisa
O morto de gentil calor
Ou de roupas ou de flor.

Tudo é enfeite posto
No morto, disfarces da morte,
Do frio, das lágrimas, do verme.

Pasmem! A roupa não esquenta
O morto nem o caixão nem o coração.
Sereno permanece o morto nu da vida.

Desvelem os segredos e acessórios,
Anjos ou demônios nada vestem.
Por que o morto deveria tapar o seu milagre?

POESIA - AMOR É ALMA - THIAGO LUCARINI

No canto do olho
Uma lágrima

Lágrima à beira
Do precipício

Precipício da vida,
Pois o amor teve partida

Partida doída dela.
Nasceu ali feito flor

Flor do olhar nublado
Aquela lágrima de dor

Dor de não saber ser
Um alguém sem você.

Você é o meu amor
Amor é alma

Alma minha se foi.
Foi deixando eu vazio.

POESIA - CHINELOS - THIAGO LUCARINI

O chinelo
Virado no chão

Sofreu capotamento.
Mamãe não irá morrer,

Pois o chinelo virado
É o quadro em verve e mote

Dos meus passos tombados,
Frutos de uma vida de pecados.

Não corro para desvirar o chinelo,
Pois é mais poético, que ele, assim permaneça

Capotado no chão do meu quarto,
Sem sequer saber que virou poesia.

POESIA - SUOR E LÁGRIMA - THIAGO LUCARINI

O suor
É a lágrima
Da pele.

Pele tal
Que invejou
Os olhos

Por terem
Tamanha
Expressão.

Ao sol, decidida,
Chora a pele
Suas lágrimas

De verão,
Sem depender
Dos olhos.

POESIA - A CECÍLIA MEIRELES - THIAGO LUCARINI

Querida Cecília, desculpe a minha pretensa intimidade,
Mas quis eu aprender contigo o sacro Exercício

De compor boa poesia, bem ou mal, eu aprendi.
Não que venha este aprender incerto a ser falha do teu ensino

Que, por sinal, foi-me riquíssimo e santificador,
Porém não cheguei a ser um pastor de nuvens,

Devido a tua eloquente supremacia das dores e delícias,
Em gerar por diversos partos tão somente belas poesias.

Eu estive levianamente contando Os Mortos
E todos os motivos de uma rosa decidida

Para assim, eu não descer à sepultura.
Não tive nenhum Motivo exato para isso.

A poesia simplesmente me bateu e arrebatou,
Pois esta é um infinito Mar Absoluto de quereres.

Mar este que não quero vencer seja Noite
Ou um Afogado Dia de Chuva fria e insípida.

Obrigado querida Cecília, de tudo a tudo.
Vou-me a fazer poesia, Elegia a uma pequena borboleta, grande mulher, poetisa.

POESIA - O CRISTAL E A FLOR - THIAGO LUCARINI

Estes cristais baixos
De poucos bens e reflexos

São minha alma em pedaços.
Cacos atirados do alto

Daquilo que um dia eu fui.
Quebrei-me aos pés da flor

Que jurou muito me amar.
Bastou um hirto espinho

Parar eu todo desmoronar,
E ser este monte tombado de pedra cristalina.

Fui frágil cristal ante a flor
Fraturei-me em mau amor.

POESIA - O LÁPIS AZUL ESQUECIDO - THIAGO LUCARINI

Pensou o lápis azul
Esquecido sobre a mesa:

“Perdi meus irmãos coloridos,
pois minha dona me esqueceu.

“Será que foi sem querer
ou pelo o fato de eu ser azul?

“Será que a menina tão bonita
não gostou da cor com a qual nasci?

“Pobre de mim, azul céu, azul
oceano, azul anil, azul azulzinho.

“Pobre de mim, vítima da cor, na caixa uma falta,
Eu esquecido sobre uma mesa fria e incolor.

POESIA - ESPLENDOR AMBÍGUO - THIAGO LUCARINI

Somente o teu abraço
Me faz um super-homem, mãe.

Tão somente as tuas palavras amargas
Me fazem inconsistente pó, lágrimas do vento.

Juíza da minha inutilidade ou redenção,
Curandeira de feridas do corpo e da alma.

Aquela que vai à frente do caminho
Tirando os espinhos, mas não todos,

Pois alguns acúleos servem de lição.
Verte de ti o sangue, o leite, a criação.

Segue com flores em tons de vermelho vivo
Com todo esplendor ambíguo de ser mãe.

POESIA - POESIA, SIM. - THIAGO LUCARINI

A poesia é mística eternizada,
Desvelada por corações corajosos, sim.

A poesia é musa bendita.
Abstrata subjetiva, sim.

A poesia é deusa desapropriada,
Muitas vezes esquecida em páginas amareladas, sim.

A poesia é terra para habitar,
Solo arado por mentes lavradoras, sim.

A poesia é semente de sonhos.
E germina se você acreditar, sim.

A poesia é festa simplória e maravilhosa,
Mesmo quando faz cair um temporal de lágrimas, sim.

A poesia é a arte fina do homem,
Tentando falar pela voz do Criador, sim.

POESIA - MAESTRO CORAÇÃO - THIAGO LUCARINI

Amor, não ignore a sincera canção
Que emite o meu maestro coração

E que reverbera pelos meus lábios
Na forma pura de muitos “eu te amo”

Ouça minha sonata feita só para ti,
Acompanhe minha melodia e ritmo.

Sou em vários tons de surpresa
A sua elétrica canção personificada.

Sonham os anjos com tal composição
Tão-somente perfeita. Cria-se aos meus pés

Um universo singular e peculiar regido
Pelo som único deste meu maestro coração.

POESIA - VELHAS LUZES - THIAGO LUCARINI

As velhas luzes
Beberam da escuridão,

Apagaram suas auréolas e halos.
Desmoronaram sobre si mesmas

Compondo terríveis buracos negros.
Agora olham a vida por este olho vazio,

E sugam tudo querendo preencher o nada
Nascido pelo fim da luz primaveril de outrora.

Choram as luzes mortas, sem santidade.
Choram sobre o seu túmulo de eternidade.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

POESIA - FREAK DÉCO - THIAGO LUCARINI

Tive toda a sua menosprezável
Estética e falida audiência errática.

Observava-me como se eu fosse
A suprema arte aos teus olhos inocentes,

Quando eu não passava de similitude
Ao engano, a falsidade e ao bizarro.

Era eu, apóetico vulgar e sem compaixão.
Não era imagético de nada além do vazio.

Estava mais para uma camisinha cheia
Atirada no canto de um quarto descartável,

Toda a vida presa numa redoma de plástico.
Dali, de mim, nada pode nascer, crescer.

Sou uma peça de mostruário, exposto
Monstro poeirento de brechó, puro Freak Déco.

Deus sabe que eu tentei ser melhor, porém
De tanto horror feri teus olhos com cegueira.

Fama é a glória sobre a miséria dos outros.
Quanto mais olhos arranco mais belo fico.

POESIA - CORPO POLÍTICO - THIAGO LUCARINI

Todo corpo
Expressa por si
E em si
A política
Da sua situação
Em rota de ação.

Todo corpo é manifesto.
Todo corpo é protesto.

O corpo
Fala:
De amor, da dor,
Do gênero, da cor,
Do sexo e da sua condição,
Da fé, do monetário,
Do uso arbitrário
Da política
Feita pelo Estado.

Todo corpo sustenta
Sua bandeira que é a própria cabeça.
Algumas sangram outras são de paz.

E reforça a haste com acessórios políticos:
Roupas, calçados, pensamentos e afins.
Nem mesmo um corpo imoralmente morto
É neutro, pois muitos morrem
Em nome de alguma política primal
Seja de sobrevivência crua ou organizacional.

Todo corpo é estruturado,
Politicamente posicionado,
Cada qual, compondo os pilares
De uma estanque cerca social.

POESIA - PRISIONEIRO - THIAGO LUCARINI

Ele construiu
Uma prisão tão perfeita

Dentro da sua cabeça.
Ele permaneceu eternidades

Atrás das suas grades de pensamento.
Era um cárcere absolutamente seguro,

Livre de qualquer interferência alheia.
Ali, sentia-se plenamente indissolúvel no social.

Montou sua cama e sua cela
E por anos a fio observou pelas grades diáfanas

O diminuto mundo além do seu nariz.
Teve a liberdade corporal desde que nasceu,

Contudo, sempre a recusou, escolheu o estrito.
Preferiu enterrá-la a enxergar a vida com clareza.

POESIA - A ESTRELA QUE CAIU - THIAGO LUCARINI

A estrela caiu
Do céu do meu olhar.

Perdida vagou do alto do meu universo
Até o frio chão, berço de toda criação.

Foi esta uma viagem de descoberta,
Foi perdendo o calor, de acordo, com a descida,

Foi evaporando-se ficando mais sábia e fina
A cada depressão do corpo pelo caminho.

Passou a estrela pela imensidão de mim
Apagando-se para iluminar meu eu escuro.

Quando enfim, beijou o chão, feito
Cabeça de fósforo usada, plantou ali,

Uma esperança para ascender aos olhos
Na forma de uma nova insígnia brilhante.

POESIA - BOÊMIO GRILO - THIAGO LUCARINI

      O grilo é o verdadeiro
Boêmio da noite

A cantar sua canção
De refinados sonhos.

Com interminável canto rítmico
Ele alegra a relva sonolenta

Durante todas as noites
De verões açucarados.

Bêbado de sua festa pessoal
Ao raiar da alva

Deixa o grilo
Seu palco de grama

E cansado, porém feliz,
Enfim, vai dormir.

POESIA - CÓCEGAS NA ALMA - THIAGO LUCARINI

Toda singularidade objetiva da vida
Perpetua o direito pleno de viver bem.

O clichê de que a felicidade se encontra
Nas pequenas coisas do caminho é autêntico.

Quanto mais simplificado é o homem, não no sentido de bens,
Mas no intrínseco pensamento, mais propenso este fica

Ao entendimento do funcionamento da felicidade simplista:
Amar, comer, dormir, ler, foder, beber, acreditar, ser quem se é.

O tempo coaduna-se as respostas, a efervescência primaveril passa
E chega a calmaria com borbulhas mais suaves a fazer cócegas na alma.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

POESIA - CHIQUEIRO - THIAGO LUCARINI



Do maldito ofício da recusa,
De viver pela risória desculpa,

Vou entulhando meu coração
Das velhas coisas mundanas e imundas.

Caíram as paredes deste templo traiçoeiro,
Deste corpo pertencente as suas vontades,

Crescem os buracos, os rastros maculados
Pela lama atirada pelos sádicos moralistas.

Culpado confesso, pago a sentença de ir contra
As engrenagens do desejo social aceitável.

Meu Paraíso parece demais com o inferno
Para ter qualquer santidade em suas paredes azuis.

No fim, aquele que faz do coração, chiqueiro,
Precisa se acostumar a comer a lavagem jogada.