Ser professor é? Esta certamente é uma pergunta complexa, a narrativa desta profissão de ensino não é óbvia e muito menos linear, portanto, para desvendar parte deste questionamento é preciso ir a limites não previstos, desconhecidos para muitos. Creio que precisamos retirar o ar de misticidade do professor, não vê-lo como um algo puro, sacrossanto em missão perene ou suicida, como muitos acreditam. Vejamos e reconheçamos o professor como um cientista da educação, um interventor político, capacitado a revelar um mundo encoberto por códigos diversos: alfabetizar, letrar, criar ou reforçar comportamentos, estabelecer limites, formar cidadãos, capacitar o homem ante a desconexão de realidade e experiência de vida, fornecer inteligência social e emocional, criticidade ao funcionamento do Estado e suas hierarquias de poder, entre outros. Reduzir este professor a uma visão assistencialista e minimalista de maternalismo e paternalismo é subjugar o profissional que estudou anos para ser um licenciado, bacharel, mestre, doutor ou Ph. D. Todo aquele que esclarece o mundo a quem o desconhece sempre terá uma aura milagrosa, porém, para o aluno isso não é totalmente errôneo. O erro consiste em todos os outros fora da sala de aula querer dar este aspecto de salvador ao docente e não reconhecer seu árduo caminho de métodos e estratégias, de estudioso, e atribuir o ensino como milagre e a aprendizagem como um pedaço do Paraíso perdido ou dar simples mérito ao ato vocacional. Aqui não há nenhuma tentativa de desvalorizar o professor, que fique claro, mas, sim, um ensaio aos devidos créditos a ser dados a estes profissionais que suam o cérebro para formar uma Nação. Um comparativo: não fazemos dos médicos deuses ou santos por salvarem vidas, estes apenas usam as ferramentas e conhecimentos adquiridos com muito esforço e dedicação. Proporcionar ao aluno a capacidade de enxergar o mundo sem barreiras, por si só não santifica o professor, uma vez que essa é sua função. Válido é a capacidade de um indivíduo devidamente orientado a mudar seu meio em escalas antes inimagináveis. O professor fornece as ferramentas, é um gerente que apresenta meios para facilitar a vida cotidiana e sua extensão, porém a obra que sairá disto é em maior parte responsabilidade daquele que manipula estes instrumentos de construção. Ser professor não é uma incógnita, não é assumir papel de pai e mãe, não é ser palhaço, não é ser místico, não é ser santo, não é ser mártir, não é ser psicólogo, não é abdicar de si em nome do outro, não é sacerdócio, não é prover o pão que falta, não é ser super-herói. Mistificar é desmerecer a complexidade de uma ação muito maior, é tornar insignificante e incompreensível o trabalho diário em sala. O mito quando não destinado a exaltação, inutiliza e desqualifica seu personagem, pois apaga a razão. Ser professor é ser um cientista dos víeis sociais e emocionais que travam ou alavancam a aprendizagem, e que é capaz de trabalhar sobre estes dois contextos da melhor forma possível para instruir cidadãos para a sociedade, sendo estes a partir daí capazes de questionarem o funcionamento da mesma e de intervirem.
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