segunda-feira, 12 de junho de 2017

POESIA - PULSOS ATADOS - THIAGO LUCARINI



Pulsos atados
Corda apertada
Dilacera a carne fraca.
Sou dolentemente arrastado
Por cavalos de ignorância.
             — morro —

Âncora jogada ao mar
Junto a ela afundo-me
No abismo intolerante dos afogados
Os vivos não têm pertencimento aqui
Neste buraco faminto e líquido.
             — morro —

Sou enforcado pelos pulsos
A morte não é minha
Vem apenas para estas mãos de poeta
Ao eu cabe apenas sofrer
Mudo e sem as mãos, que tanto
Sangraram a essência divina.
Mortas, enfim, encontram
A paz do silêncio retumbante.
             — morro —

POESIA - A MORTE DO VAGA-LUME - THIAGO LUCARINI



Aquele vaga-lume
Morreu nas iminências
De a lua no céu surgir.

Era verão, fim de tarde
Quente e avermelhado
Tinha o vaga-lume alegria

No pequeno coração por
Saber que iria ver pela
Primeira vez sua mãe plena.

O sonho findou em mistério,
Pois mergulhou o vaga-lume
Na escuridão cheia e derradeira

Antes de a lua inaugura-se
No céu das eternidades outra vez.
Morreu o vaga-lume, morreu.

POESIA - GARGANTA ABERTA - THIAGO LUCARINI



sementes nascem grávidas
de florestas inteiras
Roberval Linhares Rosa

A ferida aberta
Pela enxada velha

Na garganta da terra
Vermelha e à espera

É consolo para a semente,
Embalo para as raízes dormentes.

Sete palmos ínfimos cobertos
Não selam o fim, sonhos libertos

Semeiam o início da esperança
E a semente plantada é abastança. 

A terra que a alma da chuva lava
Revela gloriosa nova muda.

POESIA - FESTEJOS E ENTERROS - THIAGO LUCARINI




Colhi das flores mortas da solidão
Não apreciei nada vívido ou colorido

Alegrei-me ante a palidez das coisas
Murchas, passadas, frias quase sem vida.

Não fui um alguém de festejos
Sempre preferi os enterros, pois

Estes costumam ser mais sinceros nas exposições
Dispostas diante da travessia do ciclo das estrelas.

O pássaro quando cala,
A flor que cai,

A gota que molha
São sinais de missão cumprida.

POESIA - O HOMEM E A ESTRELINHA - THIAGO LUCARINI



Lá do alto do céu
A estrelinha viu um homem

Seguir cabisbaixo tão sozinho
Tão triste tão inferior tão perdido.

Somente uma estrelinha tão bólide
Poderia reconhecer um alguém tão sem brilho.

Das finas alturas imarcescíveis, perguntou:
Por que segues tão curvado? Tão somenos?”

O homem obrigatoriamente teve
Que levantar-se para olhar a estrelinha tão indagadora

E responder-lhe tal sorrateiro questionamento.
Sua coluna despreparada estalou e a tristeza rolou

Pelos ombros abaixo. Antes mesmo de dar
Sua palavra à estrelinha um sorriso brotou

Em sua face árida e cansada. Naquele instante
A estrelinha soube que seu trabalho fora feito.