sábado, 12 de dezembro de 2020

MINICONTO: DISTORÇÃO - THIAGO LUCARINI

 

Sempre que me coloco diante do espelho vejo aquele monstro de feições desproporcionais sem qualquer semelhança com uma imagem real. O maldito tem aspecto apodrecido e sujo, cheio de feridas espalhadas pelo corpo ressequido. Eu não conseguia me pentear, me barbear direito, escovar os dentes em paz, tirar uma simples foto. A criatura horrorosa não me dá trégua nunca. Sinto nojo e asco dela. Eu tenho saudades de me ver, ver o eu e não a substituição, mas todo reflexo é morada dele. Jamais me vejo. O abominável nunca me machucou nem se insinuou, no entanto, me privou de mim, do amor e, por isso, eu o odeio.

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