Estive por tempo demais longe do amor, deste Paraíso tão dito e aconselhado, e agora devido à inexperiência, sofro, pois este tal amor tem dois lados: a ferida e o extrato do néctar sagrado. Tudo permanece confuso, um peso no peito, nó na garganta. Olhar o objeto de espelho e não tocar é trincar o meu próprio reflexo e nesta tentativa de ser sem ser pertencente vou diluindo o eu enraizado nas incertezas, desfazendo, causando o niilismo para tão bem assimilar o que não está na tangência do olhar nem ao sopro do toque.
Não há um algo para esperar, só o tempo com seus venenos e curas poderá atestar o que será de mim. Percebo, enfim, que o amor é a chave do condicionamento e do desarmamento, estou vulnerável, completamente indefeso, rendido. É estranho ver na casualidade como todos os cantos e cores se restringem a você, em como meu centro gravitacional cambiou de uma hora para outra e meu coração se tornou um pêndulo volúvel e traiçoeiro indo a caminhos perigosos, ora querendo morada ora querendo fugir, correr dos laços do dia que me prendem ao seu encanto perfeito e maldito.
Confesso: ando sem fome, pernas bambas, ansioso, nervoso, choroso, ciumento, feliz, triste, estúpido, vingativo. Amor é este desequilíbrio interno em busca de águas calmas, é desorganização que queima, a solidão é mais confortável, o amor agita e mexe, abala toda solidez e estabilidade. Amor é confusão sem abstração, pois o concreto: você, a carne, o cheiro, a voz, ancoram-me a realidade dúbia dos meus pensamentos. Quero ser o seu lar. Mas algum dia poderei eu ser o seu, vício?
Sigo, aqui, tentando desembaraçar, clarear, desfazer ou fortalecer a trama, a coluna dorsal do que construí em torno da sua imagem, te espero, porém, quero que seja feliz independente de mim e dos meus medos, e se em algum gerúndio eu tiver a honra de te amar, saiba que me fará o homem mais feliz do instante presente, pois finalmente terei um coração que aprendeu a amar.